Essa é da primeira vez que fui, O Porto, mas a foto é tão legal que vai de novo
Desembarquei em Lisboa relativamente tarde, minha maior
preocupação era com a Ana, do CouchSurfing, que me hospedaria. Após várias
mensagens e ligações, cheguei ao seu apartamento no Cais do Sodré, uma
vizinhança que eu já percebi ser bastante animada e bastante central.
Conversamos pouco naquela noite, mas de cara percebi que a Ana era muito
engraçada.
A Ana trabalhava como restauradora do patrimônio português,
conversamos muito sobre a influência do Brasil na cultura portuguesa e fiquei
feliz em saber que pelo menos as novelas não são mais tão frequentes; ela,
porém, mostrava-se indignada com relação ao acordo ortográfico, ao qual se
referia como a brasileirização oficial da língua portuguesa.
No dia seguinte, fui logo cedo tratar da minha documentação
e com muita sorte consegui deixa-la pronta para o final daquele mesmo dia, e
enquanto aguardava, marquei um encontro com o Fabrício, aquele maluco que conheci
no Marrocos (mais aqui) e que vivia em Lisboa. Demos uma volta pelo bairro alto e depois
pela Alfama.
Na sequência fui pegar o meu documento, que emoção! Apartir
daquele momento eu era Português, e com isso, além da imediata vantagem de
poder viver na Europa, eu poderia tirar o passaporte e com ele, entrar em
vários países que são muito mais difíceis de entrar como brasileiro, entre
eles, o Japão, o país número um da minha lista de desejos.
Voltei para o apartamento da Ana, de onde iríamos para uma
balada. Iniciamos com algumas bebidas antes de sair e seguimos para um clube
muito louco que ficava bem ao lado de sua casa. Foi conosco também a sua
companheira de apartamento da Romênia, que era uma figura, muito divertida e
desastrada, o que garantiu risadas a noite inteira.
No dia seguinte, o plano era acordar cedo para tirar o
passaporte, mas isso não aconteceu, acordei bem tarde e fui tratar de tirar o
passaporte que, devido ao horário, ficaria pronto apenas na segunda-feira, o
que não seria um problema.
Marquei naquela tarde um encontro com a Sofia, minha prima
da Ilha da Madeira, com a qual tomei um café. Ainda que não tenhamos superado
aquela formalidade de recém-apresentados, temos muito em comum e a conversa
fluía variada. O papo estava tão bom que saí atrasado para encontrar a Teresa,
do CouchSurfing que me hospedaria naquela noite. Antes de encontra-la, corri
para o apartamento da Ana para pegar minha bagagem, a Ana não estava e saí sem
me despedir dela, uma pena, ainda mais por que dei um bolo na festa daquela
noite.
Fui encontrar a Teresa na estação próxima de sua casa, já
sabia que nos daríamos bem mesmo antes de encontrá-la, a lista de coisas que
tínhamos em comum era numerosa, mas basta citar que ela estuda Farmácia e curte
os mesmos estilos de música que eu. Quando nos encontramos, parecia que já nos
conhecíamos dada a forma que conversávamos e interagíamos. Filha de um casal de
aventureiros alemães, viajou de bicicleta por centenas de quilômetros quando
tinha 12 anos acompanhada pelos pais, uma loucura.
Deixamos minha bagagem em seu apartamento e voltamos com
pressa ao encontro de sua irmã na estação, iríamos na sequência para Sintra
onde elas tocariam violino em um bar (sim, esqueci de citar que ela é
violinista). Elas já pediam desculpas antecipadas pois tocariam sem ensaio, sem
partituras e sem saber o que sairia. Apesar do aviso, a apresentação seguiu
sublime, empurrada pela energia e empolgação do colega delas que tocava
Violoncelo.
A banda
As irmãs Lemmer, Veronika e Teresa
Voltamos para o apartamento e ficamos de papo por altas
horas até que o sono venceu.
Infelizmente minha estada com ela se resumiria àquela noite,
pois no dia seguinte ela precisava voltar para o Alentejo onde ficaria
estudando a semana para a prova de Química Farmacêutica (QF dos infernos). Na
verdade, por pouco não fui com ela para o Alentejo, os pais dela eram o tipo de
aventureiros com os quais se pode aprender lições valiosas. Ela também ficou
tentada a seguir viagem comigo para Barcelona, que faríamos por HitchHiking
mas, dada a prova, não iria rolar. Assim, não restava alternativa senão uma
amarga despedida com a sensação de que ficou faltando algo.
Segui então para Estoril, onde fui hospedado pela Mimi, uma
americana do CouchSurfing que vivia em Portugal trabalhando para uma família de
ricaços brasileiros como educadora da filha deles, portadora de autismo.
Já de cara, percebi na sala da Mimi vários objetos
relacionados ao Ayrton Senna. Ela era fã doente dele, e com ela assisti ao
documentário de sua vida. Entendi por fim o motivo de toda a adoração pois eu,
ainda criança na época em que ele morreu, mal lembrava das suas conquistas.
No dia seguinte, fui com a Mimi a uma churrascaria
brasileira. A caminhada até Cascais foi marcada pela fome imensa, mas quando
finalmente chegamos, eu me acabei com aquela maravilhosa refeição, cheia de
pratos típicos como feijoada, pão de queijo e, claro, muita carne e coração de
galinha, coisas que eu não comia desde que saí do Brasil há 9 meses.
No dia seguinte fui ao aeroporto pegar o meu passaporte (que
emoção) e voltei correndo para Estoril para me despedir da Mimi, pegar minha
bagagem e voltar para Lisboa. Estava super atrasado, mas não pude deixar de ir visitar um grande amigo, o Thomas, em seu restaurante. Foi uma pena que não pude dar muito mais do que um alô e um abraço, mas foi ótimo rever essa grande figura. Saí correndo para a rodoviária de onde peguei um ônibus para Barcelona, cidade que saia o meu voo de volta para a Suécia.
Neve na Espanha??
Foi uma viagem de 17 horas, estava destruído, mas foi legal
encontrar a Marija, uma sérvia muito legal que conheci em Istambul (mais aqui) e com a qual
continuava a me corresponder, ela topou me hospedar naqueles dias até o meu
voo.
Como eu já conhecia muito de Barcelona, focamos a estada
mais em comer, beber e descansar. Demos algumas caminhadas pela praia e encontramos
também a Eva, a amiga que a acompanhava em Istambul. O momento mais surreal foi
ter encontrado uma das Britânicas que conheci na Grécia com as quais viajei até
a Itália (mais aqui e aqui).
No aeroporto, a surpresa, eu não poderia embarcar para a Suécia
caso não tivesse uma passagem de volta comprada, isso porque eu estava usando o
passaporte brasileiro, mostrei o ID Português, a atendente abriu um sorriso e,
assim, segui viagem para a Suécia (a primeira vez que a cidadania portuguesa me foi útil).