Os dois lados de Berlim

16 de fevereiro de 2012


Conheci o Konrad através do Mitfahrgelegenheit, aquele site para divisão de despesas de gasolina para a viagem entre Dortmund e Berlin. Ele viveu a maioria de sua vida no Equador e preferia falar espanhol a inglês (e mesmo alemão). Era o tipo de cara que curte aproveitar a vida e era muito gente boa. O que era para apenas ser uma carona acabou esticando para uma hospedagem em sua casa.

Ele tinha algo para fazer naquela noite e depois planejava encontrar um amigo num bar, encontro no qual eu seria bem vindo. Neste ínterim, aproveitei para fazer algum passeio na cidade. Ele me deixou em frente ao Reichstag, o parlamento alemão, um prédio com um significado histórico imenso. Aliás, tudo em Berlim tem grande significado histórico, é uma cidade onde a história do mundo moderno foi definida e cada detalhe serve para lembrar do terror, desgraça, esperança e alegria pela qual aquela cidade e o povo alemão sofreu durante o século 20.


Reichstag


O Portão de Brandemburgo

De lá caminhei para o Portão de Brandemburgo, uma construção monumental que abre o caminho para a avenida Unter den Linden (Por baixo das Tílias), a rua principal de Berlim e que carrega esse nome pois por anos haviam árvores de Tílias plantadas naquele local, na segunda guerra mundial, todas elas foram cortadas e só foram replantadas na década de 50.

De lá, segui para o bar onde encontraria o Konrad, tomamos algumas cervejas e seguimos, para uma balada. A noite foi divertidíssima e deu para sentir o porquê de todos os alemães que conheci dizerem que Berlim é a cidade mais divertida da Alemanha. Conheci vários brasileiros que estavam à passeio, e quando digo vários é porque eram vários mesmo, tipo uns 10 e não estavam juntos, é o Brasil dominando o mundo. Em especial conheci a Nara uma mineira louca viajando a Berlim com uma amiga e com quem dei muitas risadas.




No dia seguinte saí para comer com o Konrad e despedi-me dele para encontrar a Debbie em um encontro do CouchSurfing. Foi o primeiro encontro que participei, e não gostei. Era uma povo bastante negativo que apenas ficava lá falando mal de pessoas que eu não conhecia. E isso refletia a personalidade da Debbie, uma pessoa que eu senti antipatia imediata, são raras as pessoas que isso acontece.

No dia seguinte eu resolvi sair para conhecer mais de Berlin, e a Debbie resolveu vir comigo...
Fomos ao museu Topographie des Terror, o nome por si só já diz muito do que encontrei por lá. Uma rica e completa documentação sobre a escalada do Nazismo ao poder que mostra que no final das contas o povo alemão foi uma das principais vítimas do nazismo, afinal, muito antes da Kristalnacht, quando se iniciou a perseguição aos judeus, muitos alemães contrários ao regime foram perseguidos e mortos.


Antigas paredes do prédio central da SS


Ainda encontramos a placa de aviso que se está passando pela "fronteira"

Existem "soldados" americanos e russos para divertir os turistas


Quando andamos por Berlim, em vários momentos nos deparamos com um detalhe diferente no calçamento e que se estende por quase toda a cidade. Trata-se da marca deixada para se lembrar do Muro de Berlim, construído pelos soviéticos para evitar a constante onda migratória do lado oriental (comunista)de Berlim para o lado ocidental (capitalista), isso ocorria pois o lado capitalista oferecia melhores condições de vida e salário, assim, muitas pessoas iam de um lado para outro da cidade até que os soviéticos resolveram construir um muro separando-os.



O Muro finalmente veio abaixo com a queda da União Soviética, podendo-se encontrar trechos do muro espalhados pela cidade, o maior deles é a East Galery, onde artistas do mundo inteiro decoraram o muro com pinturas fantásticas.




Encontrei-me com a Debbie em seu apartamento mais tarde, de onde sairíamos para uma noitada, ela convidou a Justine, uma francesa muito bonitinha (como todas as francesas) que estava hospedada no quarto ao lado. A Justine, inicialmente disse não, mas eu intervi e ela se compadeceu aceitando o convite, de fato, eu não estava a fim de ir sozinho com a Debbie.

Fomos inicialmente a um bar junto com alguns amigos da Debbie, o que incluía duas brasileiras (brasileiros dominando o mundo). A noite foi bastante tranquila até aparecer um cara (pela cara de origem turca), bêbado que convidou-nos para uma partida de Pebolim, joguei uma e cansei, em seguida a Justine foi fazer dupla com esse cara e em determinado momento ele deu um tapa na bunda dela, o que a deixou muito puta. Mais tarde o cara resolveu ficar na nossa mesa, e deixando a todos muito incomodados, até chegar ao ponto onde pediram para ele ir embora e eu ao tentar falar com ele, ele me ameaçou de dar um soco, do nada. Depois dessa, ele foi embora, cuspindo na mesa para despedir-se. A noite continuou tranquila, fiquei trocando várias experiências com a Justine, que morava na Turquia e estava na Europa apenas para renovar o visto.

No dia seguinte, mudei de casa, desta vez fui hospedado pela Eva, uma francesa que vivia em Berlim com suas duas filhas e estava naquele momento sendo visitada pelo marido que vivia em Paris. O mais interessante é que a Eva falava português fluentemente, e eu adoro falar português com estrangeiros. Fomos naquela tarde a um museu Gemäldegelerie, que valeu a visita pela obra Amor Vincit Omnia (O amor conquista tudo) de Caravaggio.



No dia seguinte segui a indicação da Eva e fui a um museu que contava a história de Berlim com um destaque todo especial para o período de guerra e o pós guerra, quando o muro foi construído. O ápice do museu é uma visita a um Bunker construído durante a guerra fria para abrigar milhares de pessoas em caso de um ataque nuclear. Toda a iluminação do local é eficiente em transmitir toda a angústia e medo em ficar confinado em um ambiente subterrâneo.









De lá, despedi-me da Eva e de sua família e segui para a estação Messe Nord, de onde saia o carro, novamente pelo Mitfahrgelegenheit para Lübeck.

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