A Elisabeth deixou-me em algum lugar nas proximidades de Salzburg, a cidade conhecida por ser o lugar de nascimento de Mozart, além de ser a quarta maior cidade da Áustria.
Acontece que o lugar que ela me deixou era muito ruim.
Fiquei lá por umas duas horas até conseguir a primeira carona. Era um grupo de
homens indo para Salzburg, haviam passado por lá duas vezes, ficaram com pena
de mim e resolveram parar na segunda vez para me deixar em um lugar melhor para
conseguir caronas.
O lugar era bem de frente a um McDonalds, assim, aproveitei
para fazer um lanche, e usar o Wi-Fi deles. Aliás, na Europa, todos os McDonals
possuem Wi-Fi gratuito, mais um motivo para estar sempre por lá.
Fiquei alguns minutos em uma saída bastante movimentada para
Viena e poucos minutos depois parou uma senhora muito simpática mas que morava
a apenas alguns quilômetros de onde estávamos, mas dizia que iria me levar a um
lugar melhor ainda, um posto de serviço. Antes disso, demos uma volta no lago
que banhava a sua cidade, um lugar muito bonito.
O posto era gigante, ótimo, boas chances de conseguir algo.
Fiquei por lá por alguns minutos até parar um francês que estava lá a trabalho
e poderia me levar uns 40 quilômetros. O cara era muito legal e desviou-se
alguns quilômetros de seu caminho para me deixar em um posto, além de ter me
dados várias dicas de como enfrentar o frio.
Demorou para conseguir a próxima carona, demorou muito,
muito. Fiquei naquele posto por umas cinco horas a uma temperatura que variava
entre 2 e 3 graus. Minha estratégia para enfrentar o frio era ficar do lado de
fora até que não aguentasse mais, quando esse momento chegava, ia para o lado
de dentro me aquecer, tomar um chá para voltar ao lado de fora e recomeçar o
processo.
Quando já estava escuro, um rapaz num carro de luxo ao ver a
minha placa para Viena deu um sorriso e mandou-me entrar no carro. Quase
esqueci o meu ateísmo pra agradecer a Deus.
O cara era muito legal e fomos conversando por todo o
caminho. Ele era ator de cinema e televisão, relativamente famoso,
posteriormente mostrei a foto dele para uma garota de Viena e ela disse-me que
era muito fã daquele cara. No final ele desviou-se do caminho para deixar-me na
porta do lugar que ficaria hospedado.
A casa que eu ficaria era também da Elisabeth, o problema
era que ela não estaria presente naquela noite, ou seja, ficaria sozinho no
apartamento de uma pessoa que conheci no dia anterior, esse tipo de coisa só é
possível graças a essa ferramenta maravilhosa que é o CouchSurfing. Ainda
assim, achei uma droga.
Ficar sozinho naquela noite sem ter o que fazer foi bastante
difícil, momento perfeito para o velho fantasma da solidão aparecer novamente.
Mas esse fantasma já não me assusta mais, aprendi a conviver com ele, ainda
assim, a solidão nos coloca em uma situação bastante incômoda. Mas na manhã
seguinte me mudaria para outro lugar, cheio de gente.
Deixei o apartamento exatamente do mesmo modo que o
encontrei, e segui para encontrar a Liza, uma estudante da Alemanha que vivia
na Áustria, muito lindinha e simpática. Ela me emprestou uma bicicleta para
rodar a cidade, na qual passei a tarde toda. A coisa que mais me chamou atenção
em Viena foi a feira de natal que estava rolando. Fiquei muito empolgado com os
aromas do lugar e não me lembro de ter ficado assim desde as ruas de Fez.
Voltando mais tarde naquela noite, fomos para a noite,
acabamos chegando atrasado ao encontro de uma amiga dela por minha culpa, já
que resolvi tomar banho antes de sair. A noite foi muito divertida, iniciamos
por um bar onde havia um grupo muito animado de mulheres fantasiadas. Havia uma
de mulher gato que começou a puxar assunto conosco, as meninas ficaram falando
que ela estava a fim de mim, mas poucos minutos depois a mulher gato começou a
beijar outra mulher fantasiada de Elvis deixando, desta forma, claro de quem
ela estava atrás.
No dia seguinte, em meu passei da cidade, encontrei uma
americana que também ficaria hospedada conosco naquela noite. De imediato
percebi que não rolou nenhuma química e quase preferia estar sozinho naquela
tarde, mas ainda assim deu pra aproveitar um pouco, terminamos a tarde bebendo
uma cerveja.
Voltando ao apartamento estava lá o Jay, o terceiro surfer
que ficaria hospedado no apertado quarto da Liza . Era um daqueles tipos super cool que são
legais nos primeiros dez minutos, mas que logo se tornam cansativos. Ainda
assim, era um cara que tinha muita coisa interessante pra contar. O papo foi
regado a várias caipirinhas que fiz, o que me rendeu um convite para a
festa de aniversário do Jay em Paris.
Na manhã seguinte, descobri que ocorreria em 10 dias um show
de dois músicos do Angizia, uma banda que sou fissurado desde há muito tempo.
Achei um voo bem barato saindo de Bratislava (menos de uma hora de Viena) para
Paris dois dias após o show, restava saber o que fazer nesse meio tempo. A
resposta veio fácil: Rush Travelling, explico no próximo post.
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