Era uma viagem noturna de poucas horas entre Napoli e Roma,
o trem ia praticamente vazio. Deixei minhas coisas no banco da frente, sentei e
relaxei. Por um instante pensei que minhas coisas não estavam lá tão seguras,
mas que isso? Estou na Europa. Quando acordei, surpresa, minha mala de mão está
mais leve. Levaram o meu Laptop.
É difícil descrever em palavras o sentimento de frustração,
raiva e arrependimento que senti naquele momento, mas tudo isso foi substituído
pelo amargo sentimento de ter sido feito de bobo por um cara muito mais
esperto.
Perder o computador sempre foi uma possibilidade que eu
considerei e para evitar maiores transtornos eu sempre planejava fazer backup
das coisas para ficar tranquilo, o problema é que eu sempre adiava esta ação,
até acontecer o que aconteceu.
Junto com o meu computador, perdi todas as minhas fotos em
alta resolução (tenho a maioria no Picasa em baixa resolução) e o mais
doloroso, perdi todas as minhas rotas que religiosamente registrava com o meu
GPS pessoal, essa foi de doer. Mas, a vida continua e poderia ter sido muito
pior se tivessem pego a minha carteira, estaria sem dinheiro e sem ter como ter
dinheiro.
Fui na delegacia e tinha um outro cara numa situação ainda
pior que a minha, haviam roubado sua carteira e levado todos os documentos,
dinheiro, etc. Agora ele não tinha nem como voltar para casa. E o mais
interessante, ele estava no mesmo trem que eu. Quem quer que tenha me roubado,
deve ter tido uma noite cheia.
Sai para localizar um hostel, não tive sucesso em nenhuma
solicitação do CouchSurfing. Foram várias tentativas até achar um hostel com
preço razoável (ainda que caríssimo pelos meus padrões).
Saí para fazer uma caminhada máster, o hostel era muito caro
para mais do que uma noite, então aquele dia tinha que valer a pena. Fui a uma
igrejinha super movimentada e que acabei não vendo nada demais. Só descobri
depois que no cantinho que ignorei, havia nada menos que uma escultura de
Michelangelo.
Voltei depois por esta estátua
Fui em seguida ao Coliseu que fica imponente quase no centro
de Roma. É muito grande! Só ali, dá para se ter uma ideia do que representava o
poder daquele império que mudou para sempre a história do mundo.
Julio Cesar
Caminhei em seguida até o Vaticano, centro do poder da
Igreja Católica e com tantas obras de arte que parece estarmos em um museu. A
entrada para a capela cistina era muito cara e deixei passar a oportunidade.
Foi um dia bastante cheio onde conheci os principais pontos turísticos de Roma
e estava bastante satisfeito.
Algum morto pro povo adorar.
Pietá de Michelangelo
Voltei ao hostel e utilizando o computador da recepção
recebi uma mensagem da Silvia do CouchSurfing dizendo que apesar de não poder
me hospedar, ela me daria entrada grátis para um espetáculo de “música
estranha”, OK, parecia promissor. Chegando lá, conheci a Silvia, autora da
mensagem, muito simpática e gentil, conseguiríamos conversar apenas depois do espetáculo
que, aliás foi terrível, uma mistura de música esquisita com gente quebrando e
moendo coisas no palco.
Saindo do espetáculo, conheci também a Cristina e fomos nós
três tomar algumas cervejas.
Eu Cristina e Silvia!
Conversamos por horas e nos divertimos bastante,
ao final, a Silvia me levou para ver a Basílica de São Pedro através de um
buraco de fechadura uma visão única que só se pode ter ao lado de alguém que
vive lá. Continuamos conversando e acabamos percebendo que ainda tínhamos muito
que compartilhar, assim, ela acabou concordando em me hospedar em sua casa.
Assim, acabei estendendo a minha estada em Roma por vários
dias. A Sílvia, excelente cozinheira, me deliciava com pratos simples e
saborosos, além de quando possível me mostrar um lado muito diferente de Roma.
No primeiro dia, a visão que tinha de Roma era a de uma
cidade que tinha pouco a oferecer além de um passado histórico rico com suas
ruínas fabulosas. Porém naqueles dias com a Silvia, passei a ver Roma como uma
cidade vibrante, cheia de cultura e oportunidades de entretenimento.
Acabei comprando outro computador, dependia dele para manter
fotos, carregar rotas e ver filmes e séries nas horas vagas. Ficar sem
computador deixava a viagem muito mais difícil. Pesquisei os melhores preços e
acabei escolhendo um que atendia as minhas necessidades.
Conversei com o meu próximo host e acabei definindo a data
da minha partida. Comentei com a Silvia e olhando em nossas agendas, percebemos
ser possível nos encontrarmos novamente na Bélgica, nos despedimos com esse plano.
Tomei o resto do dia tendo um chá de cadeira até a noite,
quando saía o trem para Lovere. No processo conheci um moçambicano que fazia
intercâmbio na Itália e demos uma caminhada juntos.
No trem, iam quatro pessoas em uma cabine com espaço
suficiente para três pessoas viajarem confortavelmente. Tinha um cara folgado
que ficava colocando o pé em cima de mim até chegar a hora de eu jogar a perna
dele longe.
Desta vez eu não vacilei e segui abraçado com minha mala até
o final.
3 comentários:
ai sim!!! trombadinhas italianos.... NÃO!
Amigo.. Esse infortúnios acontece. Infelizmente isso é a vida. Fico feliz em saber quê essa situação não tirou o brilho desta sua incrível aventura. Roma e o notebook ficaram para traz a sua aventura continua. Um abraço edu fernandes
No final, todas as merdas da vida viram motivos para se dar risada depois!
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