Becharry é uma cidade que fica na beira do chamado Vale Sagrado, é quase como um canion bastante profundo no qual pode-se ver de longe uma densa floresta cercada por paredes enormes de pedra.
Para aquele primeiro dia, eu tinha alguns desafios a resolver, o primeiro deles era com relação ao dinheiro: como não conseguia sacar, eu teria que enviar um e-mail para a minha agente de câmbio no Brasil, fazer um depósito e aguardar a carga. Fui em uma Lan House e fiz isso o mais rápido que pude.
Em seguida saí para dar uma volta na cidade, tentando conseguir uma boa vista daquele lindo vale sem ter que, para isso, entrar dentr dele. O melhor que consegui foi em uma estrada em construção. Os operários eram muito divertidos e ficamos conversando (sempre em liguagem de sinais, urros e nomes soltos no ar). Não fiz muito mais naquele dia.
A grande aventura começou na manhã seguinte quando decidi caminhar para dentro do vale. Primeiro eu tinha que caminhar ate o outro lado, onde havia uma entrada para o fundo dele. A caminhada foi longa mas tranquila. A descida iniciou-se e eu percebi que haveria um grandissíssimo desafio.
Pois é, eu estava no meio da estrada, sem nenhum estabelecimento à vista e me deu aquela tremenda vontade de... (como dizer isso sem chocar os leitores?) uma tremenda vontade de... evacuar.
Meu intestino não estava lá naquelas condições e eu sabia que não dava tempo para voltar, ia ser ali na estrada mesmo. O objetivo então tornou-se encontrar um buraco para mandar uma obra. Felizmente, depois do que houve no Marrocos (leia aqui), eu carregava sempre comigo um pacotinho de lenços de papel.
Bem, encontrei o lugar perfeito, só havia um problema, ficava bem no meio da estrada e se passasse um carro não ia ser uma boa me pegar naquela posição ingrata. Bom, mas o tempo estava chegando ao fim, tinha que ser ali mesmo. Coloquei minha mala no chão e estava abrindo os botões da calça quando ouvi um carro chegando.
Era um senhor muito sorridente que me ofereceu uma carona para o fim do vale, eu tentei negar, tinha assuntos mais importantes para aquele momento, mas ele insistiu e acabei indo com ele. Ele morava em uma casa bem no fund do vale, um casa com uma linda visão do canion por dentro. Havia um restaurante ali por perto e foi para lá que fui, comprei uma coca como desculpa e corri para o banheiro. Que sorte hein? Para quem tava pronto para uma ação desesperada na estrada, arrumar uma carona e um banheiro é quase algo para voltar a acreditar em milagres.
Continuei a caminhada pelo vale. E não muito depois passou uma kombi com um monte de jovens na caçamba, um deles apontou para eu subir, eu disse que não, ia caminhando e após ele insistir decidi ir com eles, parecia uma ótima chance de fazer uns amigos... E foi o que aconteceu, era um grupo e umas 10 pessoas na faixa dos 15, 16 anos. E, claro, acabei virando o centro das atenções, inclusive das menininhas que ficavam zuando umas com as outras dizendo que a amiga queria casar comigo (boa!!).
Acho que eles eram um grupo religioso pois iam de igreja em igreja para rezar. E esse vale, não é chamado de ale Sagrado à toa, existem pelo menos umas cinco igrejas e mosteiros, por ali. Um deles inclusive com o corpo exposto de um dos fundadores do local. Achei graça pois no painel ao lado dizia que a incrível conservação do corpo era uma milagre únicamente atribuido à Deus. Bem, eu particularmente achei que Deus poderia fazer um serviço melhor.
Me despedi do grupo e segui caminhando até a estradinha (muito fácil) acabar, e o único caminho (exceto o retorno) era a descida que eu encarei. Muita lama, escorregões e, felizmente, nenhuma queda: cheguei ao riozinho que passa no meio do vale. Agora o que restava era a subida.
E que subida, acho que o que desci em dez minutos levou duas horas para subir, ou mais. Meu estoque de água era limitado então o lance era racionar. Quando cheguei no topo, ensopado de suor e com frio (dado o vento) e vi pela primeira vez em muitas horas casas e civilização, me senti quase como o Rocky Balboa naquela cena clássica da escada.
Olha só o que sobrou da minha meia:
Após duas caronas estava de volta em Becharry, fedendo e faminto. Perguntei no hostel onde havia um lugar bom e barato para comer e ela me mostrou o que havia naquele dia para o almoço no hostel, resolvi ficar por ali mesmo e, após um banho restaurador, comi um excelente frango ao molho curry com arroz, uma das melhores refeições que tive em semanas.
O Percurso no Vale Sagrado.
1 comentários:
Eba!! Já tava ficando com saudade dos seus posts.. hehe
Que coisa mais horrível que ficou essa sua meia hein??
Boa viagem e atualiza logo!! hehe
Abraços!
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