Quando saí de sua casa após o natal na Alemanha, eu não
esperava encontrar mais o Fred nesta viagem. Recebi, porém uma mensagem dele falando que estaria de
volta a Aarhus dali a dois dias, eu estava ainda em Gothemburg na Suécia, há
poucas horas dali, dizer não já seria difícil, mas considerando ainda que se
tratava de uma cidade universitária com estudantes de todo o mundo, bem, dizer
não se tornou impossível.
A viagem de barco durou pouco mais de 4 horas, cheguei à
cidade de Grenå em um porto que
ficava para lá de isolado, assim, a melhor opção seria seguir de caronas.
Coloquei-me na estrada e esquema padrão, bandeira do Brasil, plaquinha, polegar
para cima e sorriso no rosto, mal deu tempo de montar todo este esquema e já
parou um caminhão. Dentro um simpático senhor que estava transportando
equipamentos eletrônicos do porto até um antigo depósito militar, depois
seguiria até Aarhus, onde morava e também o meu destino.
O depósito, que
outrora foi um hangar para aviões, parecia coisa de filme. A começar pela
entrada, uma porta pesada feita de concreto, provavelmente resistente a até
bombas atômicas, foi aberta pelo simpático velhinho, que estava super animado
pela minha companhia. A porta ao ser aberta virava o chão por onde o caminhão
passava, uma coisa realmente impressionante.
Feito o
desembarque, seguimos viagem, disse o endereço à ele, e ele acabou me deixando
na porta da casa do Fred, ao nos despedirmos, ele me deu umas dez caixinhas de
uma bala com sabor esquisito extremamente comum nos países nórdicos.
Liguei para o
Fred e poucos segundos depois ouvi sua voz me chamando pela janela da casa
imediatamente ao meu lado. Saudamo-nos com um grande abraço, ao lado dele, uma
de suas companheiras de moradia, uma estudante da Eslovênia que o que tinha de
beleza lhe faltava em simpatia.
O Fred, como lhe
era característico, sentia-se responsável para que a minha estadia fosse a
melhor possível, sendo, portanto, um guia de primeira. Foi só o tempo de deixar
as malas e saímos para caminhar pela cidade que de fato não tinha tantos
atrativos ou o Fred, por não estar tão familiarizado, não os conhecia.
Primeiro fui
trocar os últimos Euros que me restavam e com eles passamos no McDonalds para
uns sanduiches baratos.
Mais tarde
conheci os outros estudantes que moravam com o Fred, as que interagi mais foram
duas delas, da Espanha e de Luxemburgo. Havia também um estudante Finlandês,
Erick, que me ajudou a comprar o bilhete de balsa em uma página Sueca, além de
dois novatos, um francês, que pouco falava com o pessoal e um indiano que
acabara de chegar e era um bocado esquisito.
No dia seguinte
fui com o Fred a uma aula, o tema era metodologia de pesquisa em jornalismo,
tema interessante, mas eu tinha maiores distrações no momento, assim, fiquei
navegando na internet e atualizando o Blog, que naquela época estava ainda mais
atrasado do que agora.
No outro dia
fomos a uma partida de futebol, eram três contra três. Eu que nunca fui muito
com futebol, estava achando que seria humilhado, mas até que não foi tão ruim,
na verdade fui o artilheiro do meu time e a partida foi bastante disputada.
Aliás, práticas esportivas são interessantes do ponto de vista fisiológico,
chega um momento em que achamos que vamos morrer e que se dermos mais um passo
o coração para, mas o mais interessante é que em mais alguns minutos, o corpo
se habitua à situação de stress e o cansaço não faz mais tanta diferença,
fazendo parecer que podemos aguentar a prática por dias. Ainda assim, não vejo
a prática esportiva como rotineira em minha vida.
O detalhe mais importante desta partida foi o frio de rachar, estava -1°C naquele dia, havia gelo na grama ao lado.
Naquela noite
rolou uma festa com a turma do programa de mestrado, cada um levava um prato
típico de seu país, o Fred, claro, levou cerveja (o que é mais tradicional na
Alemanha?). O destaque foi uma salada de bacalhau que uma colega portuguesa
levou! Dá-lhe Portugal. Saindo de lá, fomos a uma balada no bar universitário,
a minha maior distração foi o Karaoke que tinha lá com várias músicas legais,
soltei o gogó com Toxicity do System of a Down. Seguimos para a casa de uma
amiga e era uma longa caminhada, dei muita risada com a Ana, uma espanhola
pequenininha e muito, muito divertida.
No dia seguinte,
fui com o Fred no museu de Aarhus, que se destacava por algumas obras
sinestésicas, onde se mistura música, imagem, aromas, cores; tudo muito
interessante. A mais especial era a sala de fumaça, onde havia uma névoa densa
onde mal podia-se ver a distância de 1 metro, as fotos são praticamente
inúteis, mas dá para se ter uma ideia da sensação de estar sozinho no universo em
um espaço branco onde mal se veem seus próprios pés.
No dia seguinte,
resolvi ajudar o Fred a se integrar mais com pessoas de Aarhus, para isso
decidi usar o CouchSurfing, escrevi algumas mensagens para várias pessoas e
quem acabou respondendo foi a Katarina, uma estudante de cultura e língua
indiana, marcamos e o Fred, vacilão, não pode ir, pois tinha aula no dia
seguinte, fui encontra-la sozinho e foi um bate-papo bastante interessante,
onde peguei várias dicas de lugares e modos da Índia.
Katarina e uns bêbados chatos que apareceram
No dia seguinte,
segui viagem. Saí um pouco atrasado e tive que correr para pegar o trem, na
saída do ônibus, peguei informação com um cara super gente fina que além de me
informar ainda correu comigo até o trem e me ajudou com a compra do bilhete.
Ainda existem pessoas boas no mundo.
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