Peço desculpa aos leitores pela longa pausa, não foi sem uma
boa razão que, aliás, fica para os próximos posts, visto que ainda falta contar
sobre a minha ida a Estocolmo.
Já estava muito mais do que na hora de enfrentar a estrada
novamente, ficar parado por muito tempo me fez sentir certa urgência em cair na
estrada, meu destino final seria Estocolmo, mas ainda havia um longo caminho
até lá. E, para compensar por todo esse período de abstinência, eu queria uma
overdose e escolhi por caronas como meio de ir até Estocolmo.
Despedi-me dos meus queridos amigos e anfitriões, que tão
gentilmente me hospedaram por todo esse tempo. Deu-me uma dor no coração por
deixá-los, mas esse sentimento de despedida é uma constante que eu já não
sentia havia algum tempo. Ganhei uma carona do Tore até uma bifurcação no
caminho para Narvik.
A paisagem era para lá de intimidadora, com mais de um metro
de neve nas bordas da estrada, porém, olhando de uma forma mais ampla, sentirei
saudades daquela linda paisagem de inverno e aquele fjord com o mar congelado,
seria uma última imagem que eu guardaria com carinho da Noruega. Difícil foi encontrar um ponto seco para
deixar a minha bagagem, já estávamos entrando na primavera e a neve começava a
derreter dando a si mesma um aspecto sujo e lamacento.
Minha primeira carona foi um fazendeiro que ia até a próxima
cidade segundo ele a 7 km, mas que eram na verdade 70 km, os suecos e
noruegueses como sempre se deslocam a grandes distâncias costumam cortar um
zero em uma unidade de distância local, enfim, excelente.
Ele me deixou próximo a um posto de manutenção de
Snowmobiles, assim, era comum vê-los passando rápido para lá e para cá. Fiquei
lá, pedindo caronas quando para a minha total surpresa, parou um caminhãozão
enorme, destes biarticulados, ele ia até Narvik e me deixaria no caminho, mas
antes, precisávamos parar para uma entrega.
No local de entrega, haviam inúmeros veículos militares
abastecendo, eles teriam ainda uma longa viagem pela frente com destino à
Suécia, estavam ali fazendo exercícios militares, no qual havia ocorrido poucos
dias antes um acidente de avião nas montanhas a que me dirigia.
Segui viagem com o caminhoneiro que me deixou na estrada
para a Suécia, caminhei um pouco mais e me pus logo depois da entrada em um
ponto em que eu poderia ser facilmente visto. Os caminhões militares começaram
a passar um atrás do outro, eu não me intimidei e pedi carona para eles também,
mas como eu já imaginava ninguém parou, apenas buzinavam em sinal de aprovação
e bom humor. Não muito depois consegui uma carona, um guia de montanhismo e
esqui que segui até um resort entre as montanhas de Abisko. Ao chegarmos ao
destino, havia ali perto um helicóptero pronto para levantar vôo, ele disse-me
que se houvesse tempo ele poderia me conseguir uma carona no helicóptero, o
problema é que seria de volta para Narvik, como se eu ligasse!
Fui deixado na estrada, no alto da montanha, cheio de neve.
Esse foi sem dúvida o momento mais difícil da minha carreira como caroneiro,
estava MUITO, MUITO frio, descobri depois que passava dos -9°C, e pior fiquei ali parado por
algumas boas horas, pelo menos duas. Os caminhões militares (que havíamos
ultrapassado na carona anterior) passaram novamente, os motoristas foram à
loucura, buzinaram muito e fizeram uma grande festa por ver aquele caroneiro
com a bandeira do Brasil mais uma vez na mesma estrada.
Finalmente um carro parou para me salvar daquela friaca
toda, era um alemão que mal falava inglês mas era simpático até demais, até
achei que fosse gay e que parou com algumas segundas intenções, pena para ele
que essa não é a minha praia, mas foi ótimo pelo fato de ele ter desviado pelo
menos uns 200km do caminho para me deixar em Kiruna.
Lá cheguei e fui hospedado em uma casa de estudantes, eram
três, mexicano, nepalês e português, muito divertidos e que me levaram para uma
partida de futebol com outros estudantes. Muito mal que o fato de eu ser
brasileiro eleva a expectativa deles com relação às minhas habilidades
inexistentes no futebol.
No dia seguinte, estava pronto para seguir viagem, já com a
mochila nas costas quando um rapaz na janela após falarmos rapidamente me
oferece uma carona até a saída da cidade (o que me economizou uma graaaaande
caminhada), antes disso uma cerveja e um bate-papo rápido. Ele, aliás, era do
CouchSurfing também.
Fiquei na estrada, desta vez a paisagem não era tão ruim
assim, a temperatura estava até agradável (para os padrões do dia anterior) e
após não mais do que uma hora parou uma van vermelha com uma mulher super
sorridente e feliz, louca para me dar uma carona, mas ela só iria por 2 km,
declinei, afinal, o ponto em que eu estava era muito bom. Mais alguns minutos e
ganhei uma carona por uns 150 km com um senhor muito simpático e falador. A
segunda carona do dia foi com um fiscal da empresa de trens da Suécia e que me
deu uma carona até o meu destino final: Lansjärv, local de residência da Ann-Louise e do Tomas
que já me hospedaram no verão (post aqui) e que encontrei na Turquia (post aqui).
Meus dias em Lansjärv e a continuação da viagem até
Estocolmo ficam para o próximo post.
1 comentários:
Cara... comecei agora a acompanhar a sua trajetória.
To começando agora a me programar pra fazer um tour pelo mundo e pesquisando, encontrei seu site!
parabéns pela coragem.
Humberto Dantas (scudgv@gmail.com)
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