Nas montanhas de Abisko, o sol da meia-noite!

20 de julho de 2011


A jornada começa com a carona que peguei... O cara se chamava David, um simpático checo que estava de mudança para a Noruega. Ele é talvez um dos caras mais legais que já conheci na vida... Sempre com um sorriso no rosto, estava dirigindo sem parar por quase três dias, por todo o caminho entre a República Tcheca até a Noruega. Decidiu largar tudo para viver em uma fazenda próxima a Narvik.

Sabendo que eu me aventuraria nas montanhas, resolveu me dar um monte de comida que tinha estocada em sua van, que aliás era preparada para grandes viagens, segundo ele, ele foi até a Tailândia duas vezes com ela. Ele disse que se eu quisesse poderia comprá-la por algo entre € 1.000, juro que considerei essa possibilidade seriamente, mas dirigir garante uma dose extra de risco que não estou disposto a correr.
Fui com ele comprar uma barraca em Kiruna, nos despedimos em Abisko.

Chegando no camping, desempacotei a barraca e não era uma barraca, era um abrigo para o sol... Que raiva, e pior que já era tarde, não conseguiria um quarto no hotel, conclusão? Dormi no sofá da recepção, viva o CouchSurfing.
No dia seguinte, deixei a maior parte do peso da minha mochila no hotel e caminhei até a vila de Abisko e sem encontrar uma barraca, peguei uma carona até Kiruna onde achei uma excelente barraca, semelhante a que usei no festival. Agora estava tudo pronto para me aventurar na selva. Tentei conseguir uma carona até Abisko novamente, mas o local não era muito apropriado, caminhei até a estação e peguei um trem.
Saindo da estação fui direto ao Kungsleden (Trilha do Rei), haviam duas lindas montanhas logo a frente e a trilha seguia às margens de um rio de forte correnteza.


A trilha era bem fácil, seguia praticamente plana, e nos trechos de lama, havia tábuas de madeira para facilitar a caminhada.


Após 15 km e 4 horas de caminhada, cheguei em um acampamento na beira do rio, com bastante gente. Entre eles havia um casal de finlandeses que estava caminhando pelo últimos 5 dias em sua primeira aventura do gênero. Eles caminharam desde a Noruega até onde eu estava, uma caminhada e tanto. Muito interessantes e gentis, ficamos de papo até a hora de dormir. No dia seguinte, ficamos de papo no café da manhã até a hora de eu seguir viagem. Disseram-me que se eu passasse por Helsinke, já teria lugar para ficar. Ótimo, pena que não devo passar por lá.
Bem, eu havia planejado subir uma montanha para conseguir ver neve. Eu nunca tinha visto e tinha certeza que seria um encontro impressionante. A trilha desta vez não era tão simples, mata fechada, trilha estreita e de forte subida.


Após uma hora, não haviam mais árvores e subitamente eu tive o encontro tão esperado. Um monte de neve derretendo em um buraco na nascente de um rio, tirei várias fotos, enquanto ria que nem bobo.


O caminho agora seguia demarcado por sinais de pedra como esse:

Após mais alguns encontros, comecei a torcer para não encontrar mais neve. Acontece que a neve quando derrete deixa tudo o que está abaixo lamacento e cheio de mosquitos. Ahhhh os mosquitos, como me esquecer deles? Foram presença constante em todo o percurso da viagem. É quase como uma guerra, quanto mais os matamos, mais eles aparecem. Eu estava usando um repelente bastante eficaz, neste caso, não precisava me preocupar tanto com as picadas.
Não demorou para chegar ao topo da primeira montanha. Eu estava ensopado de suor, e após comer algumas sementes que eu havia levado, resolvi trocar de roupa e seguir caminhando seco.



Segui pelo topo da montanha até poder ver de longe uma ponte que estava apontada em meu mapa. Desci a montanha até encontrá-la, o que levou aproximadamente uns 45 minutos.


A ponte e atrás todo o percurso que fiz.

Errei o caminho, peguei um monte de lama para encontrá-lo novamente,e então resolvi seguir montanha acima. Eu já estava bem cansado, mas mesmo assim resolvi seguir, queria ver o sol da meia noite no topo da montanha que ficava ao lado do hotel, sabia que lá seria um dos melhores pontos para ver tal espetáculo.
A subida foi bem mais tranquila desta vez, não fiquei muito apegado a seguir a trilha, já me sentia seguro o suficiente para decidir meu próprio caminho seguindo o mapa, claro que o mapa não mostrava toda a lama que eu iria pegar e talvez seguindo a trilha eu pegasse menos lama, mas...


Havia um grupo de mosquitos me seguindo durante toda a subida, eu tentava dispersá-los mas nada, vinha o vento e... nada. Passei repelente e os ignorei. Chegando no topo havia algumas pessoas por lá, fiquei de certa forma feliz em ver gente, estava caminhando por quase 13 h sem ver ninguém, sentindo-me quase um selvagem, quando vi pessoas, me senti civilizado novamente.
Haviam me dito que após uma certa altura, os mosquitos não estariam mais lá... Estávamos a mais de 1100 metros e havia MUITOS mosquitos. Mas o que mais me incomodava mesmo era o frio e as roupas molhadas, resolvi trocar ali mesmo, o problema que não tinha mais calça, a solução seria deixar aquela para secar, mas naquele frio, impossível. Fiquei então enfiado no saco de dormir, peguei no sono e só acordei às 23h. Baita preguiça para tirar fotos, mas não dava para perder aquele momento.



Bateu meia noite, o sol brilhando no céu. Toda a minha viagem para o norte e para o alto da montanha tinha como desfecho aquele momento, o lago, as montanhas, tudo se juntava para fazer daquele momento mágico. Mas... olhando para o leste, uma cena inesperada mas ainda assim muito mais bela e rara.
A linda Lapporten em um raríssimo arco íris sob o sol da meia-noite.



Na falta de uma calça apropriada, peguei a calça do protetor de chuva, serviu perfeitamente.
A descida foi uma desgraça. Caminho lamacento na beira do riacho formado pela neve derretendo, íngreme como poucos que eu havia pego e, por ser descida, exige uma dos extra de atenção, qualquer vacilo e você desce o morro rolando. Havia uma pista de esqui e o caminho limpo não tinha árvores, pelo menos isso.

Após algumas horas chegamos no hotel que possuía um acampamento ao lado. Montei minha barraca lá, tomei um banho e fiquei de molho por dois dias.
O cansaço era tão grande que até considerei voltar pra casa. Só em casa a gente relaxa e descansa de verdade. Acampamento não é vida, é sobrevivência. Mas quando esse sentimento chega, o melhor a fazer é seguir em frente e sair procurando por novidades, e foi isso que fiz.

Segui para a Noruega, onde encontraria uma CouchSurfer lendário.

O caminho na Montanha:

0 comentários:

Postar um comentário