O melhor da Síria são os sírios.

29 de setembro de 2011



Aleppo é uma cidade com uma bagagem histórica enorme. Há evidências de que Aleppo é uma das cidades mais antigas do mundo, tendo sido continuamente habitada por mais de 8000 anos. E logo que cheguei já tentei sentir um pouco de toda essa riqueza.
O primeiro lugar que me dirigi foi à Fortaleza de Aleppo. Uma fortificação localizada no alto de um monte no centro da cidade. Cheguei lá faltava quase uma hora para fechar mas antes de subir, duas garotas sírias pediram para tirar uma foto comigo, eu, aproveitei para tirar uma foto com a minha câmera.




Subindo as escadarias, sinceramente: nada de muito interessante. Acho que já vi ruínas demais nessa viagem. O interessante era ver como as pessoas reagiam à minha presença. Parece-me que não vêem turistas há muito tempo, então me senti realmente muito especial diante de todos aqueles olhares e comentários.

Voltei à cidade, e me encontrei perdido nas ruas da cidade antiga. De fato, ela me lembra muito as ruas do Marrocos: estreitas, cheias de gente e de produtos de todos os tipos. Desde eletrônicos até sabão à base de azeite (que fede). A diferença, porém, é bastante notável quando se olha as pessoas.


Aqui na Síria, as mulheres se cobrem muito mais. Era muito raro ver mulheres de burca (aquelas  que nem os olhos se vêem) no Marrocos, mas aqui, elas são bastante frequentes. Além disso, aqui os vendedores são (estão?) muito menos focados em turistas, no Marrocos, a cada dez segundos aparecia alguém bloqueando o seu caminho querendo te vender algo, aqui fui abordado desta forma, se muito, umas duas vezes.
Na saída, encontrei duas caras estrangeiras. Era, na verade, um casal de ingleses que estava hospedado no mesmo hotel que eu. Moravam há um ano em Damasco e podiam falar árabe. Eles foram os únicos europeus que encontrei nessa cidade, algo que é totalmente inédito em toda a minha viagem. Com todas as notícias que rolam sobre a Síria, os turistas apagaram o país do roteiro, para o lamento dos donos de hotéis.
Mais adiante, fui abordado por um senhor sírio com um excelente inglês (coisa rara por aqui), ficamos de papo por um longo tempo. Através dele, fui apresentado a um vendedor de essências de rua. Um desses caras com perfil bem muçulmano tradicional, barba longa, turbante etc. Ele não falava inglês mas, mesmo assim, ficava loongamente falando de Allah e suas virtudes. Ganhei dele um perfume.

Chegou em seguida dois Iranianos de bastante idade e que estavam fazendo uma espécie de romaria por algumas mesquitas importantes do oriente médio, tudo isso de bicicleta. Juro que vendo-os deu-me até vergonha de ficar pegando carona. Ver dois senhores de mais de 60 anos pedalando por milhares de quilômetros enquanto eu mal consigo andar 30, dá uma tremenda vergonha.

Perguntei aos meus dois amigos iniciais sobre qual a rota mais barata para se chegar em Beirut no Líbano, depois de alguns minutos de discussão acalorada, o que conheci primeiro resolveu me levar até a rodoviária (precisamos pegar um ônibus e ele pagou). Descobrimos o horário. Na volta ele tentou me convencer a seguir com ele para a Líbia, lá o plano era comprar e vender algumas porcarias e fazer muita grana nesse processo.
Caminhado, cruzamos com um festa para suportar o presidente, sinceramente me pareceu meio forçada. Primeiro que era cercada e nem todos tinham acesso, em segundo lugar, era comum ver pessoas da seleta platéia gritando mensagens de apoio ao presidente.


Ainda naquela noite encontrei o Bassel, um cara do couchsurfng que me fora indicado pelo Josef de Isparta. Infelizmente ele não estava mais hospedando pessoas, mas ele ainda continuava como uma excelente companhia, com ele aprendi um monte de coisas interessantes sobre a cultura e tradições sírias.


No dia seguinte resolvi dar mais uma volta pela cidade velha, mas desta vez munido de um pouco mais de informações e lugares para ir. O mais interessante de todos, sem dúvida foi a grande mesquita, localizada bem no centro da cidade velha.

É um lugar bastante tranquilo e espaçoso. Haviam pessoas de todo o tipo inclusive uma mulher que me chamou atenção por estar usando burca e, com isso, tinha seu corpo totalmente coberto. Em um determinado momento ela levantou a burca e pude ver seu rosto. Olhos bastante escuros contrastando fortemente com a sua pele, branca como leite, que evidenciava seus raros encontros com o sol. Mesmo tentando ser o máximo de compreensivo e tolerante com a religião islâmica, ver mulheres cobertas desta forma é de balançar o coração. Ainda mais pelo fato de que esta é apenas uma ordem de uma sociedade machista sem o embasamento religioso, pois o corão é claro em excluir o rosto e as mãos das partes que devem ser cobertas.
Ri muito de uma hora que havia uma grande concentração de pessoas e repentinamente alguém grita "Mohamed", pelo menos umas dez pessoas olharam procurando quem chamou. Mohamed e o nome do profeta do Islã e é sem duvida o nome mais comum nestes países árabes.

Outra coisa engraçada foi a marca de caminhonetas mais famosa da Síria:

De Aleppo eu seguiria para o Líbano e no da seguinte, peguei um ônibus e segui viagem. Eu estava com o dinheiro bastante controlado e escasso, na síria eu não conseguia sacar dinheiro devido ao bloqueios dos cartões de crédito. Descobri porém, que haviam taxas extras a serem pagas por todos aqueles que deixavam a Síria. Danou-se... Acho que não vou ter grana para pagar o visto libanês.
Bem, chegando no controle libanês, o clima era totalmente diferente, os agentes de fronteira eram bastante bem humorados e brincalhões. Bem diferente dos agentes sírios que pareciam de luto por todos os mortos pelo país.
Havia entre os agentes um em especial que tinha a irmã no Brasil. Tirou muitas risadas minhas ao gritar "Caralho, Porra" entre todos os policiais. Eu estava bastannte perdido e ele resolveu ajudar-me e agilizar o meu processo, carimbou e deu o visto sem cobrar nada, o que foi um tremendo alívio.
Meu caminho estava agora aberto para seguir para Trípoli.
Meu primeiro dia em Aleppo:

2 comentários:

Unknown disse...

Quando vc fez essa viagem?
É seguro ir na Siria hoje em dia?

Bruno Teixeira disse...

Olá Bianca,

Essa viagem eu fiz em 2011, já haviam protestos mas a guerra ainda não tinha começado. Hoje não acho que a Síria seja um país seguro para viajar, a guerra continua muito séria e lamento ver alguns destes lugares lindos que vi, hoje estão completamente destruídos.

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