Desembarquei no Aeroporto de Faro. Sim, estava novamente em Portugal, apenas dois meses depois de minha última visita, quando vim fazer um passaporte lusitano e acabei conhecendo a Teresa (cujo relato está aqui).
Depois daquela despedida, eu e a Teresa nos correspondemos
quase que diariamente na qual foram surgindo planos cada vez mais ambiciosos de
seguirmos viagens juntos. Assim, acabei postergando minha viagem à Ásia para
mais uma viagem a Portugal com o objetivo de iniciar essa empreitada junto com
ela.
O plano era ambicioso, pois incluía uma forma de nos
auto-sustentar: com música de rua. A Teresa com seu talento e experiência ao
violino e eu arranhando no violão, coisa que eu não fazia já há alguns anos.
Vou poupar o leitor dos detalhes do nosso reencontro e pular
para a nossa primeira viagem juntos: uma aventura de três dias ao Porto, saindo
de caronas de Lisboa.
Foi uma viagem muito mal planejada, visto que decidimos em um dia e saímos no outro. A ideia era fazer CouchSurfing, mas não encontramos nenhum anfitrião para nos hospedar. Assim, na primeira noite ficamos em um hostel e na segunda, fingindo-nos de peregrinos do caminho de Santiago, nos hospedamos na base do corpo de bombeiros.
Foi uma viagem muito mal planejada, visto que decidimos em um dia e saímos no outro. A ideia era fazer CouchSurfing, mas não encontramos nenhum anfitrião para nos hospedar. Assim, na primeira noite ficamos em um hostel e na segunda, fingindo-nos de peregrinos do caminho de Santiago, nos hospedamos na base do corpo de bombeiros.
Apesar do fiasco que
foi essa viagem, percebemos que tínhamos um alto grau de afinidade na estrada,
e isso é importante para qualquer viagem de uma semana, ainda mais para uma de
um ano.
O maior desafio a esta empreitada seria o fato de que a
Teresa ainda não havia finalizado o curso de Farmácia na universidade, o que só
ocorreria depois de um ano. Para essa viagem ocorrer, seria necessário
interromper o curso e continuar após a viagem, e para isso, era primeiro
necessário vencer o medo de nunca mais terminá-lo. E esse medo era também
compartilhado pelos pais dela, pessoas incríveis.
O Andreas e a Rose vieram morar em Portugal após completar
uma incrível jornada de bicicleta pelo mundo. Viajaram por 24 mil
quilômetros pelos Estados Unidos, Oriente Médio e Austrália. Além de viajantes são
também músicos e, com música nas ruas, financiaram anos e anos de viagens, daí
que surgiu a inspiração para uma viagem como essa. Porém, ao invés de apenas
bicicleta, seremos mais versáteis com relação ao meio de transporte, usando
principalmente caronas, mas não nos restringiremos apenas a elas.
A minha relação com os pais da Teresa foi muito
enriquecedora e intensa desde o começo, tentei absorver o máximo que pude de
sua experiência de viagem e de vida. Fui integrado à família também na parte
musical, tocando a Canon de Pachelbel na frente de centenas de pessoas. Graças
a eles, minhas habilidades musicais cresceram exponencialmente.
Convivemos, eu e a Teresa pelos próximos quatro meses em
Lisboa, enquanto ela finalizava o semestre na Universidade. Para passar o
tempo, fiz um pouco de tudo e com graus variados de sucesso: projeto em
Epidemiologia na Faculdade de Farmácia, música de rua e até me enveredar nas
artes secretas da culinária.
Ao chegar o mês de Julho, começamos os procedimentos para
que a Teresa pudesse tirar o visto Russo (eu como brasileiro não preciso), o
que apesar do trabalho e custo alto, deu certo. Depois, enquanto a Teresa
passava alguns dias no Alentejo com os pais, eu decidi fazer a minha própria
viagem de bicicleta. Saí de Lisboa e fui pela costa oeste e sul até a fronteira
com a Espanha. Uma viagem de uma semana, e 470 quilômetros.
Viajar de bicicleta era uma das últimas formas de viajar que
me faltava conhecer e gostei muito da experiência com algumas ressalvas, porém:
é um meio de viagem solitário, passamos o dia inteiro sem falar com ninguém e
quando chega a noite, procuramos um local seguro e isolado para acampar. Por
outro lado, cada quilômetro é uma conquista e poder dizer que conquistou
algumas centenas deles é um motivo de grande orgulho.
Voltando da viagem, era a vez dos pais da Teresa tirarem
alguns dias de férias e para isso precisavam que nós ficássemos cuidando de sua
casa e animais. Assim, passamos as últimas semanas de Julho, eu e a Teresa
cuidando da plantação de tomate, alperce, berinjela e morango, além das
galinhas, gansos, peru e cabras. E entre todas estas atividades, procurávamos
tempo para ensaiar algumas músicas para nossas performances de rua.
Tudo
pronto para o nosso início de viagem: uma semana no Sul de Portugal entre
caronas, acampamento e música. Mais no próximo post.