Dias no deserto!

20 de maio de 2011

O local era o pequeno povoado de Hassilabied, a 5 quilômetros da cidade de Merzouga. Fui recebido pelo Said e sua família, que como a grande maioria das pessoas da região são do povo Bérbere, largamente conhecidos por sua hospitalidade da qual eu pude contar.

Fizemos uma rápida caminhada pelo vilarejo e pelo oásis: um pequeno canal de água que possibilita o cultivo na região.

Em toda a caminhada eu podia ver enormes dunas de areia que me chamavam para uma caminhada. O Said sugeriu apenas que eu comprasse uma garrafa d'água, uma vez que a água da região é salgada demais para turistas.
Eu, pronto para iniciar a caminhada até a duna mais alta.

Esse lenço que apareço usando em minha cabeça e rosto, foi uma excelente aquisição. A função, além de proteger a nossa pele do sol, serve para evitar a inalação de areia e também evitar a perda de umidade do corpo. Outra dica que peguei com o povo do deserto é a forma de se movimentar pelas dunas: não se deve subir a duna de frente, o ideal é subir a duna pelas laterais, assim gasta-se menos energia evitando o deslocamento grande de areia.
Depois de uma longa caminhada de uns 40 minutos (que pareceram 4 horas), cheguei ao pico da duna mais alta, e lá descobri que ao longe haviam dunas ainda mais altas. A paisagem de lá era linda de mais para poder ser descrita em palavras. Ficam as fotos.




A caminhada de volta foi bem mais tranquila, descer correndo uma duna é animal... Mas olha o meu tênis como ficou na volta:

No dia seguinte eu faria a mesma jornada, o objetivo agora seria ver o nascer do sol. A subida dessa vez foi bem mais fácil, considerando todas as manhas que eu aprendi no dia anterior, além da temperatura mais amena da manhã. Chegando lá, vi mais duas pessoas vindo, dois japoneses para fazer-me companhia. O sol, porém, apareceu atrás de nuvens, o que acabou um pouco com a beleza do espetáculo.

Na volta, acompanhei o pai do Said no pastoreio de camelos. Foi um passeio memorável visto que não tínhamos como nos comunicar exceto por sinais e desenhos na areia, ainda assim, aprendi muito sobre a fauna da região, alimentação, psicologia de camelo, etc.

O Said e sua família, estão prestes a inaugurar uma pequena pousada, sugeri montar um website, coisa que eu poderia ajudar.
A fachada da futura pousada

Mais tarde naquele dia, o Hassan veio me buscar para uma jornada pelo deserto que duraria até o dia seguinte, imperdível.

A viagem durou duas horas em cima do dromedário. O momento mais interessante em andar de camelo, é a hora em que ele se levanta ou abaixa para montarmos, a gente sente um tranco bastante forte que facilmente poderia nos derrubar.
Conversando com o Hassan, meu guia, descobri que, na verdade, camelos e dromedários não são usados como animais de transporte pelo povo do deserto, eles apenas são usados como animais de carga.
A jornada é bastante interessante uma vez que, em determinados momentos, nos vemos completamente cercados pelo deserto sem ver nada além de areia por todos os lados. O caminho, pelo menos, é bastante bem traçado na areia e nas dunas, uma vez que ele é utilizado várias vezes ao dia por dezenas de turistas.
A jornada terminou em um acampamento de nômades bérberes.
A tenda da direita é a que estava reservada para mim.
Os nômades deste deserto sobrevivem principalmente do turismo. São eles os responsáveis pelo jantar servido aos turistas que lá chegam. Cada hotel da região tem a sua tenda específica destinada a seus hóspedes. No meu caso, descobri que eu seria o único em minha tenda, já que o hotel do qual o Hassam era guia, não tinha nenhum hóspede dada a baixa temporada), excelente, teria a tenda só para mim.
Estávamos próximos do pôr do sol, decidi escalar a duna mais próxima. Durante a subida, percebi que tinha esquecido a água lá em baixo, tarde demais, não valia a pena voltar.
Muita sede quando cheguei lá em cima... Eu mal conseguia pensar em olhar a paisagem, felizmente haviam vários outros turistas por lá, acabei de papo com um grupo de canadenses. Daí então o espetáculo do pôr do sol.




Antes de descer consegui captar esse belíssimo momento das duas amigas canadenses que fiz nessa duna.

A descida foi um dos momentos mais emocionantes que já tive. Acompanhamos o topo da duna até um local que nos permitiria uma descida limpa e sem muitas interrupções. Um dos canadenses tinha uma prancha de sandboard e foi primeiro. Logo em seguida nos fomos a pé, correndo. A cada passo naquela descida íngreme, nossos pés se enterravam até o joelho na areia fofa. Não dava pra parar e nem para ver muitos metros à frente, a escuridão tomava conta do lugar. A duna tinha exatos 164 metros de altura, o que nos garantiu uma descida de 300 metros à um ângulo de 34º, para se ter uma idéia, a rua mais íngreme do mundo tem uma inclinação máxima de 19(informações exatas graças ao meu excelente i-gotU).
Quando cheguei no acampamento, o jantar me aguardava. Um delicioso e enorme Tajine, um prato típico da região feito com algum tipo de carne (no caso frango) e legumes. Comi toda a carne e metade dos legumes, estava entupido, mas ainda tinha a sobremesa: deliciosos melões da região, muito mais doces e saborosos do que os brasileiros.



O lado chato desta jornada foi o fato de eu ter ido sozinho, ótimo, tinha uma enorme tenda, muita comida e um guia só para mim, porém, de tudo é nas horas das refeições que mais sentimos falta de outras pessoas. Jantar sozinho é uma experiência extremamente desagradável. Devo voltar a falar sobre a solidão no futuro.
Quando apaguei o lampião era hora do espetáculo de estrelas, eram muitas e só não eram muitas mais pois a lua crescente estava brilhando muito forte. Coloquei a minha câmera com abertura em 30 segundos para tentar registrar o momento.


Mais tarde naquela noite, tentei encontrar o grupo de canadenses, mas não deu certo, as cabanas eram muito numerosas. Decidi voltar para a minha cabana.
A noite estava muito bela e decidi dormir do lado de fora da tenda. No início estava ótimo e parecia que tudo seria perfeito, não fosse um detalhe: tempestade de areia. Me cobri com o lençol até a cabeça, mas mesmo assim não rolou, quando decidi sair, tinha quase dois centímetros de areia sobre o lençol que eu me cobria. O vento forte e a areia é uma combinação bastante desconfortável. A areia passa na pele como pequenos cacos de vidro, causando uma dor bastante característica.
A próxima aventura seria tentar entrar na cabana de olhos semi-cerrados, no escuro e com o colchão tapete e lençóis. Deu trabalho, mas consegui. O dia seguinte, seria o dia de voltar para o vilarejo.
Acordei cedo o suficiente para pegar umas fotos do nascer do sol (dessa vez sem subir duna nenhuma) e tirar mais algumas fotos.
O nascer do sol

Dois nômades de papo

A barraca dos nômades

O camelo de folga

A barraca em que passei a noite

Foto (mal-tirada) da barraca

Um pouquinho de sandboard
Essa foi a última foto de minha câmera entes de ela não abrir mais. A tempestade de areia do dia anterior foi de mais para a pobrezinha. Voltei para o vilarejo de luto.

O primeiro dia no deserto:


Nascer do sol e pastoreio:


Jornada e Acampamento no deserto.

3 comentários:

Milton Leal disse...

Fala Bruno. Sensacional essa jornada. Só uma dúvida, eu lembro que vc comentou em algum post que vc faria Couch Surfing no Marrocos. Foi na casa desse guia? Ou vc pagou o serviço? Quanto custou esse rolê aí pelo deserto?

Abs

Milton

Bruno Teixeira disse...

Fala Milton,

Sim, Foi justamente na casa deste guia que fiz CouchSurfing, foi fantástico.

O acampamento no deserto eu fiz com um amigo deste guia, e saiu por 40 €, tudo incluso.

O movimento do couchsurfing no Marrocos é bem forte, se vc procurar, vc vai encontrar lugar para ficar em qualquer cidade que vc quiser ir.

Acabei não utilizando mais dessa possibilidade pois aqui é tudo muito barato e o esforço do planejamento não vale os 6 € que eu costumo pagar em hostel e hotéis por aqui. Na europa vou aproveitar mais, certeza.

Abraços

Milton disse...

Que bacana! viajo na próxima sexta. Amsterdam, depois Escandinávia.

Abraço!

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