As Auroras Boreais

18 de abril de 2012



Aurora Boreal é um evento cósmico que ocorre nas regiões polares que fazem das noites de inverno destas regiões parecerem mágicas.

O vídeo abaixo explica como e porque elas ocorrem:


Resumindo, as auroras ocorrem devido a influência do plasma oriundo das explosões solares com a alta atmosfera, ocorrem nos polos, pois é ali a parte mais fraca do escudo magnético da Terra.

É um evento surpreendentemente frequente, quando estive por lá, aconteceu quase todas as noites sem nuvem que tivemos, e este foi o problema, quase todos os dias foram nublados.

A primeira noite que eu as vi, era uma noite muito, muito fria, os termômetros marcavam -14°C. Mesmo com toda a roupa que eu tinha, não consegui aguentar por muito tempo. Ainda assim foi o suficiente para vê-las, magníficas e fantásticas.

Vejam no vídeo da National Geographic como elas são fantásticas:


Foi com essa expectativa que fui vê-las e tive uma pequena decepção, elas não são tão rápidas como aparecem no vídeo, elas na verdade são praticamente estáticas, mas como o vídeo é acelerado, parece que as luzes se movem muito rapidamente. Mas isso não tira a magia delas.

Na primeira foto que ia tirar ocorreu umas das mais fortes e magníficas que eu vi em todo o período em que estive na Noruega, porém o lugar era péssimo para fotos devido à todas aquelas luzes, corri para um lugar mais neutro, mas as luzes haviam se dissipado.


Em outro dia, na parte de trás da casa, valia pela paisagem toda.



As melhores fotos que consegui tirar foram na casa de campo do casal Larsen (que me hospedavam), o lugar era lindo, enfiado em um Fjord (braço de mar cercado por montanhas) e as fotos ficaram realmente impressionantes.




Essa não tem Aurora mas serve para mostrar como o lugar é lindo.

No total de 2 meses que fiquei em Sortland, só houve céu claro com Auroras por no máximo umas 4 noites, então, tomem cuidado ao planejar viagens com o objetivo de verem as Auroras, pode ser uma tremenda decepção.

Por fim, quando segui para a Suécia, já muitos quilômetros ao sul, não tinha mais esperanças de ver qualquer outra aurora e, para a minha surpresa, vi a mais forte, impressionante e fabulosa aurora, multicolorida em branco, vermelho e verde e movendo-se tão rápido que o movimento era perceptível. Infelizmente havia muita luz e eu não tinha um tripé para a minha câmera, essa ficou então só na memória.

Trabalhando na Noruega

16 de abril de 2012


Estava em Sortland esperando o meu grande parceiro Tom chegar e, como isso só iria acontecer em duas semanas, achei que seria legal tentar arrumar algum trabalho e quem sabe ganhar um dinheirinho. Segui a sugestão do Tore e da Torhild e fui até o porto, onde sempre precisavam de mão de obra.

Na CTG, uma das empresas que ficam por lá, entrei e localizei o Freddy, responsável pela descarga dos navios. Na conversa, ele não fez muitas perguntas, disse apenas para que eu voltasse mais tarde pronto para trabalhar, o salário era o equivalente a 22€ por hora, uma fortuna se compararmos com os 5€/h de Portugal.

Voltei às 16h, coloquei um macacão preparado para baixas temperaturas, capacete e uma bota de segurança que tomei emprestada de um colega romeno, essa bota possuía a parte da frente em metal, protegendo assim, meus preciosos dedos caso alguma coisa caia sobre o meu pé.

Segui a turma para dentro do navio, descemos uns dois andares passando por uma linha de produção. Neste barco, os peixes são pescados no mar e processados ainda dentro do navio onde são estocados em caixas de 20 kg no porão do navio à -20°C, e era nesse ambiente que trabalharíamos, retirando as caixas para pallets que seriam retirados do navio. De cara eu me assustei com a quantidade de caixas, demorou dois dias para uns 8 homens tirarem tudo.

Trabalhava comigo um cara, que me parecia africano e que era bem devagar, eu sei que não é legal, mas era difícil não rir da burrice dele. Não existe trabalho estúpido o suficiente para que pessoas estúpidas não o façam mal feito.

Naquele dia, trabalhei apenas seis horas, quase nada perto do que me esperava no dia seguinte quando trabalhei 14 horas, muito puxado, mas considerando os ganhos, valia o esforço, cada hora trabalhada representava um dia a mais de viagem em países como Índia ou Tailândia. Devido a exaustão do dia anterior, peguei um dia de folga e trabalhei mais 11 horas no dia seguinte que, interessantemente, foi muito, muito mais tranquilo, acho que meus músculos se adaptaram às condições de trabalho extremas.

Na próxima semana, liguei para o Freddy para ter uma ideia de quando seriam os próximos desembarques, ele disse que não havia previsão ainda, quando perguntei sobre como seria o pagamento ele disse-me que precisaria do cartão de impostos, só que para tirá-lo eu precisaria do contrato de trabalho, ele disse sem problemas, eu só precisava ligar no dia seguinte que ele resolveria esse imbróglio.

Liguei no dia seguinte, e nada de ele atender. No outro dia: nada, muito estranho. E assim foi por semanas e semanas, a minha paciência havia se esgotado, tentei ser legal com ele, mas aquela situação já estava ridícula.

Foi assim que em um certo dia comecei a ligar a cada cinco minutos até a hora que ele atendeu bastante impaciente:

– Olha, eu estou ocupado, quando for para te pagar eu te ligo – disse o Freddy.

– Freddy – respondi calmamente – eu já estou esperando sua ligação há mais de três semanas.

– Não é problema meu se você não tem os documentos para eu te pagar – disse ele cinicamente.

– Como não é seu problema? Para solicitar o cartão de impostos, preciso do contrato de trabalho que era de sua responsabilidade ter me dado antes mesmo de eu começar a trabalhar.

– Então tá, eu ia te pagar sem precisar de documento nenhum, mas já que você insiste, vou te fazer esse contrato, depois pra fazer o cartão leva uns dois meses, mas isso é problema seu. Amanhã vou estar em Sortland e eu te ligo para assinar o contrato.

Na verdade eu sabia que não demorava tanto e estava bastante tranquilo com relação a isso, desta forma, no dia seguinte só restou esperar, esperar e nada de ele ligar, que saco, vamos começar tudo de novo. Comecei a ligar novamente a cada cinco minutos e nada.

No dia seguinte, resolvi ir até a empresa que eu tinha trabalhado, encontrei um dos operadores de empilhadeira e fiquei sabendo que no dia seguinte eu poderia encontrar o Freddy, pois haveria um desembarque. Dito e feito, cheguei no dia seguinte e encontrei o Freddy com sua característica cara cínica.

– O que você está fazendo aqui? – disse ele, já meio agressivo.

– Vim saber como é que vou ser pago – respondi tentando manter a calma.

– Cadê o seu cartão de imposto? – como pode ser tão cínico?

– Como assim cadê o cartão, você sabe que para tirá-lo eu preciso do contrato que você disse que ia me dar.

– Sinto muito não posso te dar nenhum contrato agora, pois isso vai significar que eu ainda quero você trabalhando comigo, mas você é muito chato – e tenta segurar a vontade de pular no pescoço desse FDP.

– Esse contrato você deveria ter me dado antes de começar a trabalhar, era sua obrigação.

– Aquilo era uma experiência, mas você bagunçou tudo.

– OK, se você não quer me dar esse contrato eu serei obrigado a entrar em contato com a Fiscalização Trabalhista para ver o que eles acham disso – na Noruega, os fiscais de trabalho podem fazer a vida do empregador um inferno, mesmo que tudo esteja certo o que não era o caso. Bom daí ele começou a gritar:

– Se você não der o fora daqui imediatamente eu vou chamar a polícia.

– Ótimo, pode chamar, estou curioso para saber o que você vai dizer a eles.

– Que você não pode ficar na Noruega sem documentos.

Foi aí que percebi que o plano dele nunca foi de me pagar, ele achava que eu era um imigrante ilegal e obviamente, nunca conseguiria um cartão de impostos se fosse esse o caso, mas tinha um detalhe que eu nunca tinha falado para ele:

– Amigão, eu sou português, eu posso morar e trabalhar aqui o tempo que eu quiser.
Daí ele ficou putaço, me pegou pelo colarinho e me mandou sair dali, pois estava atrapalhando o andamento do serviço. Daí eu disse:

– OK, eu vou embora, mas antes de ir, eu vou falar para as pessoas daqui da CTG (ele era um prestador de serviços) o tipo de profissional que você é.

– Hahaha, eu dou risada de pessoas que tentam isso, você acha que eu estou preocupado.

Saí do depósito onde estávamos e entrei na primeira porta do escritório e perguntei à uma das pessoas ali para saber com quem eu precisaria falar para resolver o meu problema com o Freddy. Com isso, ainda estava na metade do discurso o Freddy apareceu e me puxou para fora da sala, gritando alto que eu não devia fazer aquilo etc.

Com o barulho desceu um cara do andar de cima, que fez o Freddy se acalmar, expliquei por cima a situação do contrato, eles trocaram algumas frases em norueguês, o Freddy abaixou a bola e me deu um papel com um telefone (que ele já tinha escrito) dizendo para que eu ligasse e resolvesse o problema.

Antes de sair olhei para ele e perguntei:

– Precisava de tudo isso para algo tão simples?

Liguei para o telefone, uma mulher atendeu, passei meus dados, 10 minutos depois encontrei o Freddy novamente para assinar o contrato, no qual ele me fez assinar sem dizer nenhuma palavra. Peguei o contrato, fui à central de impostos.

Uma semana depois o cartão chegou, falei com a mulher e fui pago no mesmo dia.

Com relação ao Freddy, nunca mais o vi, mas ele terá uma surpresa quando os fiscais trabalhistas aparecerem por lá. Bwahahaha!