Ainda mais sorte em Sortland

25 de março de 2012



Voltar ao ártico no inverno era uma promessa que eu fiz a mim mesmo quando saí de lá no verão. Encontrar o Tom seria reencontrar um grande amigo, porém as mensagens que enviei a ele, de uma hora para outra, não retornavam. O Tom estava incomunicável, por razões que não valem a pena serem citadas aqui. Acabei, desta forma, escrevendo a seus pais que se prontificaram a me receber e, coincidentemente, chegariam de viagem exatamente no mesmo dia que eu e no mesmo aeroporto.

O Tore e a Torhild me receberam como um filho em uma estadia que se estendia semana após semana.
A Torhild é enfermeira e trabalha diariamente, uma senhora muito inteligente com quem sempre tive conversas estimulantes e profundas. Sempre fazendo o possível para que eu me sentisse em casa, o que aconteceu depois de alguns dias, me fazendo até me sentir um pouco culpado.

O Tore é um encanador experiente que desde jovem deu vazão à suas aspirações empreendedoras e, com grande sucesso, criou uma rede de lojas de decoração. Apesar da nossa diferença de idade, nos tornamos grandes amigos desde os belos dias de verão, no qual tomamos junto um porre regado a muito vinho e jogo de xadrez.

Tore e sua filha Tove em sua loja

A hospitalidade foi imensa, o conforto nem se fala, além de uma cama confortabilíssima, havia um banheiro só para mim, nesse banheiro tinha uma sauna e o exagero: uma banheira de hidromassagem. Esse último detalhe me fez cair na risada em quanta, quanta sorte eu tinha.


A semana corria tranquila quando recebemos a notícia de que o Tom, grande comparsa, estaria na cidade em duas semanas. Foi essa a primeira desculpa para estender a minha estada.

Bem, já que vou ficar aqui por duas semanas, talvez valha a pena arrumar um emprego. Foi o que eu fiz, com consequências tão complicadas que vai ganhar um post só para isso, mas o que precisa ser dito é que isso me deu motivo para estender minha estada por pelo menos mais um mês.

Fato interessante é que, nos dias em que o Tore saia para fazer alguma instalação ou serviço externo como encanador, acompanhei-o alguns punhados de vezes, os mais interessantes foi a instalação de uma pia, incluindo todo o encanamento de água e esgoto em um supermercado e uma instalação de móveis de banheiro.

Aos finais de semana não havia muito que fazer na cidade, assim o programa principal era ir até a casa de campo nas montanhas que ficava em meio às montanhas de um Fjord lindíssimo chamado Fiskefjord, que traduzindo seria o Fjord dos peixes. Lá passávamos dias bastante relaxantes em meio a toda aquela neve que era muito mais alta do que na cidade.


Da esquerda para a direita: Anne, Tore, Hauk Ivar e Torhild

Uma figura frequente que encontrávamos por lá era a Anne, irmã do Tore, e seu marido Hauk Ivar que era um cara muito legal, sempre falando da vida, cultura, costumes e culinária norueguesa. Também ele que tentou – sem sucesso, devo dizer – a esquiar.


Foi ele também que, junto ao Tore, me ajudou a desatolar o Snowmobile em todas as minhas tentativas de andar nele, é muito difícil, ainda mais na hora que eu caí em um buraco coberto de neve, ficamos mais de dez minutos extenuantes para tirar todo aquele peso do buraco, e conseguimos. Enfim, acho que esportes de inverno e brasileiros são mesmo incompatíveis.

Vale mencionar a linda paisagem de inverno daquela região:







Em uma dessas idas e vindas, acabamos atropelando um alce na estrada. Felizmente era um alce bebê, e o carro era grande, de outro modo, há um sério risco. O alce parecia bem, apenas não conseguia levantar. Chamamos as autoridades que não demoraram a enviar alguém. Imaginei que levariam o pobre alce ao veterinário para tratar dos ferimentos e devolvê-lo à natureza. Ledo engano: o alce acabou levando um tiro de escopeta.


O resultado ficou na estrada.


A razão principal para o meu retorno a esta região era ver as auroras boreais, que também valem um post. Só uma foto para dar um gostinho:


Depois de algumas semanas, recebemos a visita do Tom, apenas para aquele final de semana. Fui com a Torhild ao aeroporto busca-lo e foi um reencontro muito feliz e a alegria se estendeu por todo o final de semana, a começar pela festa que rolou naquela sexta feira mesmo, iniciada no bar, terminada na casa do Tom, com direito a black-out e ressaca máster. Foi triste vê-lo despedir0se do filho e partir a contragosto.

Após algumas semanas, passava a maioria dos dias em casa sem ter muito que fazer. Cansei de tanta preguiça e mandei algumas mensagens para o pessoal do CouchSurfing da região, e entre algumas respostas, recebi uma da Dorka, uma farmacêutica da Eslováquia, assim, os dias ficaram menos monótonos, visto que ela recebia frequentes visitantes. Em um final de semana, fomos a um local onde as tradições Sami (nativos da Escandinávia, relacionados aos esquimós e que viviam ali antes dos Vikings) acompanhados da Maria, uma russa muito engraçada, acabamos não vendo nada senão algumas renas, tiramos algumas fotos e fomos expulsos do local sob protestos da dona, que em geral cobra por fotos como aquelas.



No total foram quase dois meses ali em Sortland, ficar parado por tanto tempo teve um custo muito pesado, não financeiro já que o Tore nunca me deixou encostar em minha carteira, mas um custo pessoal. Eu já estava habituado à vida na estrada, cheia de aventuras e longe de qualquer rotina. Ficar tanto tempo parado significou colocar o meu projeto de vida na geladeira por este período e depois de algumas semanas eu estava sedento para cair na estrada novamente.

Rumo ao Norte

14 de março de 2012



Cheguei em Varberg após algumas horas de Balsa. Estava bastante frio e havia ainda bastante neve daquele lado (ao que parece não nevara na Dinamarca). Após alguns minutos fui resgatado daquela noite fria pelo Jim e pela Bella, um casal muito legal que me acolheria naquela noite.

Antes de seguirmos para sua casa, os acompanhei ao supermercado, um lugar que é sempre interessante ir, pode se aprender muito sobre a cultura local vendo-os fazer compras.

Em casa, ficamos de papo por várias horas e também durante um delicioso jantar feito pela Bella. Descobri que o Jim era engenheiro de segurança em uma usina nuclear, usou o Homer Simpson para exemplificar.

Já no dia seguinte segui viagem para Oslo, mas aproveitei a parada obrigatória em Gothemburg para dar uma passada no Shopping e encontrar a Sofie em mais um protesto, que ficou muito, muito feliz em me ver, é impressionante a energia positiva que ela tem. Infelizmente nosso encontro seria bastante curto, pois meu ônibus com destino a Oslo sairia em alguns minutos, deu apenas tempo de dar um abraço sintetizar as novidades e nos despedir, antes de seguir para a rodoviária deu tempo para mais um par de Semlas.

Chegando em Oslo, segui para a casa da Ingvild, do CouchSurfing. Deu um pouco de trabalho para desvendar o mistério da numeração das ruas da Noruega, mas chegando lá: Uau, que casa linda, parecia que tinha saído diretamente de um desses contos infantis. Com um jardim todo branco pelos 30 cm de neve, árvores desfolhadas pelo inverno e pinheiros enormes tudo isso sob a penumbra de uma iluminação ineficaz, porém charmosa.

A foto de dia ficou uma merda

Chegando lá, fui recebido pela Ingvild, um tipo raro de pessoa. A primeira coisa que chama a atenção nela é a sua altura, ela era maior do que eu. Em segundo lugar sua atitude frente à vida: uma batalhadora, aventureira e uma pessoa feliz. Suas viagens são nada menos do que inspiradoras, ela já esteve nos cinco continentes e não foi apenas por uma pequena temporada. Junto dela, estava uma amiga Sueca, muito divertida e que tinha uma conexão especial com a Ingvild que as deixavam na mesma sintonia.

Ingvild no Malawi (roubei a foto dela no CouchSurfing)

Rolou uma festa com o pessoal do CouchSurfing que morava em Oslo, conheci desta forma um monte de gente legal e inspiradora que nos acompanharam para uma noite de festa. Começamos em um Bar no centro de Oslo, e nosso grupo se separou, algumas das pessoas eram menores de 18 anos e não puderam entrar.

A diversão aumentava conforme subia o grau alcoólico da Ingvild e eu, como seu hóspede, tive que tomar a posição de seu guardião, tentando me divertir enquanto mantinha um olho sempre na direção dela. Fomos a um bar brasileiro, muita animação e músicas que eu conhecia, com alguns brasileiros inclusive para matar a saudade do meu português.

A amiga sueca da Ingvild desapareceu acompanhada por um antigo “amigo”, mas eu e a Ingvild não estávamos sós. O tempo foi passando, e com isso chegou a hora de ir. Paramos primeiro em uma loja de departamento, a Ingvild resolveu levar algumas pizzas congeladas, mas se recusava a pagá-las, ela queria roubá-las! Eu na convenci do contrário, e seguimos o caminho. Apareceu um cara, conhecido dos outros, com uma atitude muito esquisita em cima da Ingvild, veio abraçando-a, mesmo que sua altura mal chegava aos ombros dela, tentando convencê-la de ir com ele para a casa dele. Ela não estava em condições de tomar uma decisão daquelas, e a reação dela e dos outros não parecia sugerir que ela estivesse interessada, e como o cara estava muito esquisito e agressivo em cima dela, eu, como seu guardião acidental, resolvi intervir puxando-o para longe dela. Ele protestou agressivo, mas peitei-o dizendo: Ela NÃO vai contigo! Na hora pensei que ia rolar uma briga, mas ele foi embora. Acho que o intimidei com a minha barba Viking.

Antes de ir para casa, a Ingvild apresentou evidente melhora após um lanche no McDonalds. Tomamos um taxi cum um amigo que também ficaria hospedado conosco, ficamos os três de papo bebendo água até não haver qualquer evidência de embriaguez entre nós.

Fiquei mais dois dias nos quais não fiz muito, exceto por uma caminhada em Oslo que não teve nada de especial, exceto por um Kebab e uma caminhada no cemitério perto da casa da Ingvild, uma incrível paisagem que me fazia sentir em um mundo em preto e branco. Perdi também a oportunidade de ter ido esquiar com ela, já que perdi sua ligação no celular que ficou em casa.



Na manhã do dia 31 saí de casa cedo, e quase perdi o meu avião, uma vez que pelos cálculos da Ingvild, a viagem até o aeroporto levaria apenas uma hora, mas isso considerando alguém que sabia aonde ir, o que não era exatamente o meu caso, desta forma tive que correr e muito para pegar o avião nos últimos minutos. Destino: Harstad, 200 km acima do círculo polar ártico.

Os estudantes de Aarhus

13 de março de 2012



Quando saí de sua casa após o natal na Alemanha, eu não esperava encontrar mais o Fred nesta viagem. Recebi, porém  uma mensagem dele falando que estaria de volta a Aarhus dali a dois dias, eu estava ainda em Gothemburg na Suécia, há poucas horas dali, dizer não já seria difícil, mas considerando ainda que se tratava de uma cidade universitária com estudantes de todo o mundo, bem, dizer não se tornou impossível.

A viagem de barco durou pouco mais de 4 horas, cheguei à cidade de Grenå em um porto que ficava para lá de isolado, assim, a melhor opção seria seguir de caronas. Coloquei-me na estrada e esquema padrão, bandeira do Brasil, plaquinha, polegar para cima e sorriso no rosto, mal deu tempo de montar todo este esquema e já parou um caminhão. Dentro um simpático senhor que estava transportando equipamentos eletrônicos do porto até um antigo depósito militar, depois seguiria até Aarhus, onde morava e também o meu destino.

O depósito, que outrora foi um hangar para aviões, parecia coisa de filme. A começar pela entrada, uma porta pesada feita de concreto, provavelmente resistente a até bombas atômicas, foi aberta pelo simpático velhinho, que estava super animado pela minha companhia. A porta ao ser aberta virava o chão por onde o caminhão passava, uma coisa realmente impressionante.

Feito o desembarque, seguimos viagem, disse o endereço à ele, e ele acabou me deixando na porta da casa do Fred, ao nos despedirmos, ele me deu umas dez caixinhas de uma bala com sabor esquisito extremamente comum nos países nórdicos.

Liguei para o Fred e poucos segundos depois ouvi sua voz me chamando pela janela da casa imediatamente ao meu lado. Saudamo-nos com um grande abraço, ao lado dele, uma de suas companheiras de moradia, uma estudante da Eslovênia que o que tinha de beleza lhe faltava em simpatia.

O Fred, como lhe era característico, sentia-se responsável para que a minha estadia fosse a melhor possível, sendo, portanto, um guia de primeira. Foi só o tempo de deixar as malas e saímos para caminhar pela cidade que de fato não tinha tantos atrativos ou o Fred, por não estar tão familiarizado, não os conhecia.

Primeiro fui trocar os últimos Euros que me restavam e com eles passamos no McDonalds para uns sanduiches baratos.

Mais tarde conheci os outros estudantes que moravam com o Fred, as que interagi mais foram duas delas, da Espanha e de Luxemburgo. Havia também um estudante Finlandês, Erick, que me ajudou a comprar o bilhete de balsa em uma página Sueca, além de dois novatos, um francês, que pouco falava com o pessoal e um indiano que acabara de chegar e era um bocado esquisito.

No dia seguinte fui com o Fred a uma aula, o tema era metodologia de pesquisa em jornalismo, tema interessante, mas eu tinha maiores distrações no momento, assim, fiquei navegando na internet e atualizando o Blog, que naquela época estava ainda mais atrasado do que agora.

No outro dia fomos a uma partida de futebol, eram três contra três. Eu que nunca fui muito com futebol, estava achando que seria humilhado, mas até que não foi tão ruim, na verdade fui o artilheiro do meu time e a partida foi bastante disputada. Aliás, práticas esportivas são interessantes do ponto de vista fisiológico, chega um momento em que achamos que vamos morrer e que se dermos mais um passo o coração para, mas o mais interessante é que em mais alguns minutos, o corpo se habitua à situação de stress e o cansaço não faz mais tanta diferença, fazendo parecer que podemos aguentar a prática por dias. Ainda assim, não vejo a prática esportiva como rotineira em minha vida.


O detalhe mais importante desta partida foi o frio de rachar, estava -1°C naquele dia, havia gelo na grama ao lado.

Naquela noite rolou uma festa com a turma do programa de mestrado, cada um levava um prato típico de seu país, o Fred, claro, levou cerveja (o que é mais tradicional na Alemanha?). O destaque foi uma salada de bacalhau que uma colega portuguesa levou! Dá-lhe Portugal. Saindo de lá, fomos a uma balada no bar universitário, a minha maior distração foi o Karaoke que tinha lá com várias músicas legais, soltei o gogó com Toxicity do System of a Down. Seguimos para a casa de uma amiga e era uma longa caminhada, dei muita risada com a Ana, uma espanhola pequenininha e muito, muito divertida.

No dia seguinte, fui com o Fred no museu de Aarhus, que se destacava por algumas obras sinestésicas, onde se mistura música, imagem, aromas, cores; tudo muito interessante. A mais especial era a sala de fumaça, onde havia uma névoa densa onde mal podia-se ver a distância de 1 metro, as fotos são praticamente inúteis, mas dá para se ter uma ideia da sensação de estar sozinho no universo em um espaço branco onde mal se veem seus próprios pés.









No dia seguinte, resolvi ajudar o Fred a se integrar mais com pessoas de Aarhus, para isso decidi usar o CouchSurfing, escrevi algumas mensagens para várias pessoas e quem acabou respondendo foi a Katarina, uma estudante de cultura e língua indiana, marcamos e o Fred, vacilão, não pode ir, pois tinha aula no dia seguinte, fui encontra-la sozinho e foi um bate-papo bastante interessante, onde peguei várias dicas de lugares e modos da Índia.

Katarina e uns bêbados chatos que apareceram

No dia seguinte, segui viagem. Saí um pouco atrasado e tive que correr para pegar o trem, na saída do ônibus, peguei informação com um cara super gente fina que além de me informar ainda correu comigo até o trem e me ajudou com a compra do bilhete. Ainda existem pessoas boas no mundo.

Os rebeldes da Suécia

7 de março de 2012



Meu vôo para a Suécia custou-me apenas 30€, um preço excelente. Só havia um problema, do aeroporto até a cidade de Gothemburg, era necessário tomar um ônibus a um custo de 20€, legal né?

Cheguei na estação central com um pequeno problema, ainda não sabia onde iria dormir naquela noite, o plano que era de seguir para Falkenberg não deu certo, meus amigos de lá foram para Copenhagen para despedir-se do Yata, que iria para os Estados Unidos. Assim, encontrei uma zona com internet livre e comecei a enviar solicitações no CouchSurfing, e após algumas horas recebi três respostas e a mais interessante parecia ser a Sofie, quando liguei para ela, tive certeza disto. Ela atendeu super feliz e alegre, dizendo que estava contente por eu ter ligado e que estava em uma festa, assim, seu companheiro de quarto iria me encontrar em sua casa.

Resolvi ir caminhando já que não era tão longe assim, chegando ao local, após alguns minutos chegou o Johan, um cara super alternativo com cara de Hippie. Pouco depois, descobri que não era só cara. Seguimos para a casa da Helena, namorada do Johan, eles estavam em meio a um jantar. Quando a Helena me ofereceu, eu disse que tinha acabado de passar no McDonalds, ela fez uma cara e disse: OK, mas não fale mais sobre isso. Eles eram não só vegetarianos como também vegans, e o mais interessante, praticavam o Dumpster Diving.

Do google images

O Dumpster Diving é uma prática que descobri ser comum na Escandinávia, consiste em ir às lixeiras de supermercados e recolher aqueles alimentos que ainda tenham algum potencial de consumo. Segundo eles, é possível viver muito bem desta forma e, para a minha surpresa, a deliciosa torta que eu acabara de comer era feita com vegetais recolhidos desta forma.

Era irônico o fato de que mesmo depois de visitar países pobres, venho a conhecer tantas pessoas que recolhem lixo para comer, apenas quando chego à Escandinávia, a razão disto: alimentos são caríssimos por ali.

Conheci a Sofie apenas no dia seguinte, ela era uma pessoa radiante com uma energia positiva contagiante e um sorriso permanente. Ela estava completamente comprometida pela luta por um mundo melhor e por uma Suécia melhor. Pensei por um instante: A Suécia é praticamente o país perfeito, está entre os três melhores do mundo em praticamente qualquer comparativo que se escolha. Afinal, o que ainda resta para lutar? Bem, descobriria naquela tarde mesmo, uma vez que a Sofie já preparava uma manifestação à qual fui convidado e não hesitei em participar.

O protesto seria realizado na praça central do principal Shopping Center de Gothemburg, o protesto: dançar. Acontece que na Suécia, é proibido dançar em público sem autorização, desta forma eles organizavam uma sessão de dança pública onde cada pessoa ouvia a sua própria música em fones de ouvido, o objetivo principal era elevar a consciência do público para essas leis “sem noção”. Faltou mais o componente informação para que este objetivo fosse atendido, de qualquer maneira dançar feito um retardado junto com um monte de outros retardados é bem divertido.



Tivemos até a visita da polícia que super educadamente solicitaram que não fizessemos muita bagunça, mas não se opuseram ao protesto de nenhuma forma.



Saindo de lá, comprei um par de Semla (algo parecido com um sonho de padaria, mas lotado de creme) e em posse deles, fomos a uma praça cheia de neve onde construímos um boneco de neve que acabou virando uma parede de neve.

Essa aí (de bege) é a Sofie!

A parede de Neve e o Semla

De lá, fomos para a casa da Helena onde haveria uma reunião do conselho revolucionário (eles odiariam esse nome). Lá eles discutiram os próximos passos, novas manifestações e ações, eu fiquei calado a maior parte do tempo, só dei uns pitacos relacionados à falta de foco nas ações.

Mais tarde naquela noite fui, acompanhado do Johan e da Helena a uma festa. Era engraçado, diferente das festas do tipo no Brasil, quase não havia álcool, a razão é o preço quase proibitivo da Suécia. Um lance muito interessante que havia lá, era uma bandeja de frutas variadas e vários pratinhos com diferentes coberturas, chocolate, caramelo etc. Uma delícia.

Havia um casal fazendo uma dança esquisita na sala, perguntei à Helena. Tratava-se de uma Improvisação de Contato (Contact Improvisation) onde duas pessoas improvisam movimentos sendo que a única regra é que seus corpos permaneçam sempre em contato. A Helena era praticante constante disso, acabei, assim, tentando alguns movimentos. Não deu muito certo porque fomos interrompidos por um gordinho bêbado e suado que estava se sentindo solitário.

Improvisação de Contato, do Google Images

No dia seguinte, eu estava ainda acordando quando vi a Sofie se preparando para sair para uma corrida, fui convidado. Eu como sedentário de carteirinha sair em uma corrida não é muito a minha cara, mas a paisagem lá fora estava tão linda com uns 20 cm de neve fresca, esperando por ser pisada. Resolvi acompanha-la então.

Surpreendi-me com a minha capacidade em acompanha-la, fomos até o alto de um monte próximo de sua casa. Ao comer um punhado de neve, a Sofie me lembrou de uma lição importantíssima: Não coma a neve amarela!

Mais tarde naquele dia, recebemos a visita de seus pais, um casal interessantíssimo que tinham várias histórias de viagem interessantes para contar.

No dia seguinte, segui para Varberg, de onde tomaria uma balsa para a Dinamarca, local onde encontraria mais uma vez o Fred!