Picaretagem em Petra

15 de outubro de 2011


A caverna de Ghassab

Foi uma dura negociação com o motorista do ônibus para ir de Amman para Petra. O preço segundo todas as pessoas que consultamos era de 5 Dinares, mas chegando lá por sermos turistas eles pensam que podem ganhar uma grana extra e queriam cobrar 15 Dinares cada. Eu saquei na hora a sacanagem e peguei uma nota de 10 Dinares para eu e a Mariana e fui entrando no ônibus, o cara protestou no início mas eu fiquei apenas olhando pra cara dele segurando a nota e sem falar nada, no final ele pegou a nota e mandou-nos entrar.

Chegamos em Petra algumas horas depois e já era noite, pegamos um táxi até a vila dos beduínos onde encontraríamos o Ghassab, um cara que a Mariana encontrou no CouchSurfing e que topou nos receber. Porém, chegando na vila dos beduínos, o Ghassab não estava lá, teríamos que encontrá-lo na caverna onde ficaríamos hospedados e para isso ir;íamos de carro. Chegando lá a surpresa, teríamos que pagar ao motorista a quantia de 10 Dinares, enquanto pensávamos que ele estava fazendo um favor. Demos mais tarde 20 Dinares e receberíamos o troco no dia seguinte.
O Jipe rosa do Ghassab

Daquela noite, nunca vou me esquecer do céu estrelado. Era inacreditável a total escuridão e quantas estrelas isso nos possibilitava ver. Após a conversa que tivemos com os beduínos naquela noite, decidi ir dormir do lado de fora som um colchão abaixo de mim e um mar de estrelas no céu.

O Ghassab era um cara que me inspirou desconfiança desde o início. E logo logo as minhas desconfianças começaram a ter motivos. Primeiro que demos ao Ghassab algum dinheiro para comprar cerveja, ele passou em um lugar deu o dinheiro para um cara e disse que viríamos buscar depois. Fomos a um lugar chamado mini-Petra, que possui um templo escavado na pedra.

Mini-Petra


Na volta, não ele disse que não conseguia encontrar o cara da cerveja. Isso me soou muito estranho, a vila era do tamanho de um ovo, todo mundo sabia de todo mundo, como um cara poderia sumir assim? Mais tarde o mesmo cara apareceu na janela, o Ghassab falou alguma coisa pra ele em Árabe e ele foi embora. Desconfiado, após alguns instantes, perguntei sobre a cerveja e ele disse que ainda não teve notícias do cara. Daí eu lancei: "Mas pera aí, como vc não acha o cara se ele acabou de aparecer na janela?". Ele desconversou, ficou bravo e disse que o cara não quer dar a cerveja. Daí perguntei também sobre o troco de ontem, ele disse que o outro cara não tinha troco e ele não conseguia localizá-lo.

No dia seguinte, fomos acampar no meio das montanhas. Foi uma noite fantástica com muitas estrelas e um precipício enorme. Adormeci em meu saco de dormir deixando a Mariana conversando com o Ghassab. Na manhã seguinte, eu falei à Mariana que provavelmente não veríamos aquele dinheiro mais e o melhor a fazer seria dizer ao Ghassab para que ele fique com o dinheiro para pagar pela gasolina que estávamos gastando. Desta forma, saíamos por cima, afinal evitaria que no final ele viesse com as ideias de querer mais dinheiro. Mas isso funcionaria para uma pessoa normal, o Ghassab era um sem noção.

Pôr do Sol

Acampamento

Mariana, Ghassab e o abismo.

Fomos acampar mais uma noite e com o vento frio e nuvens chegando, o Ghassab achou melhor voltarmos para a cidade, OK. Só havia um problema, o carro estava sem gasolina e não queria funcionar. Mas eu estava prestando atenção e a ignição do carro se dava em duas etapas, e ele estava começando pela segunda, ou seja, era mais uma artimanha dele.
No teatrinho, ele ligou para um amigo e ele disse que queria 15 Dinares para levar gasolina no meio do deserto. Eu fiquei quieto e não disse nada. Ele dizia não acreditar nesses amigos e no papo o valor diminuiu para 5 Dinares, eu continuei na minha. E disse que podíamos voltar caminhando para a cidade, afinal eram apenas 2 quilômetros. Ele ficou muito puto, mas não podia falar nada. Iniciamos a caminhada e após cinco minutos de caminhada, o teatrinho acabou com o irmão dele vindo trazer gasolina. Isso tudo, só para não deixar totalmente evidente a mentira, afinal, como um carro sem gasolina poderia volta a funcionar?

Dormimos na cidade. O Ghassab, apesar de tudo continuava inventando programas, e para o dia seguinte iríamos tentar entrar em Petra sem pagar. Eu sabia que era arriscado, pois se fôssemos pegos, teríamos uma multa de 4 vezes o valor da salgada entrada. Acordamos cedo, o Ghassab demorou a acordar e saímos atrasados.

Iniciamos a caminhada e a Mariana acabou ficando para trás. Eu voltei para ajudá-la, o Ghassab entre nós dizia, não temos tempo. Eu disse: "Não dá pra deixá-la para trás", ele retrucou visivelmente alterado e gritando: "Eu disse que não temos tempo, deixa ela pra trás e pronto".

Aí eu perdi a paciência e disse que se era para seguir daquele jeito era melhor não seguir. Daí ele ficou muito puto, começou a xingar etc. Voltamos para casa e decidimos seguir viagem, não dava para continuar com ele. A única preocupação era com as nossas bagagens e assim que voltamos para a caverna, comunicamos à ele que era melhor seguirmos viagem.

Aprontamos a mala e caminhamos até a estrada, o Ghassab disse que não ofereceria carona pois estava sem gasolina, mas mesmo que tivesse oferecido eu preferia ir caminhando.

No caminho, fomos recebidos por um grupo de mulheres beduínas que nos ofereceram chá e um negócio esquisitíssimo. Era duro como pedra (sem exageros). Para morder, dava medo de quebrar o dente, era também bastante azedo, mas o chá atenuava.
Eu e as Beduínas

Mais tarde descobri que isso era Leite de cabra seco.




Ficamos de papo por alguns minutos quando quem chega? Ghassab em seu Jipe cor-de-rosa.
Ele seguiu até a estrada, parou, e decidiu voltar para conversar com as beduínas. Ele falou um monte de coisa em árabe e depois disso foi embora. Ficou evidente a diferença de tratamento que as mulheres nos deram após a chegada do Ghassab, por este motivo, resolvemos seguir viagem, pegando carona atrás de carona até chegar na cidade próxima a Petra, onde ficaríamos em um Hostel.

Sobre o Ghassab, acredito que ele tem um potencial enorme como guia, e tem um excelente produto para oferecer. Ele nos mostrou como viviam os beduínos enquanto moravam em cavernas, acampamos diversas vezes vivendo quase que totalmente da natureza e nos divertimos de montão. Porém, o fato de termos encontrado-o no site CouchSurfing, uma ferramenta de hospitalidade, espera-se ter como moeda de troca apenas a gratidão e amizade. O CouchSurfing não deveria ser usado como uma ferramenta para se encontrar clientes turísticos e, se essa é a intenção do Ghassab, creio que o CouchSurfing não é o lugar para ele.
Fomos de carona, é claro.

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