No Vale Sagrado de Becharry

7 de outubro de 2011



Becharry é uma cidade que fica na beira do chamado Vale Sagrado, é quase como um canion bastante profundo no qual pode-se ver de longe uma densa floresta cercada por paredes enormes de pedra.
Para aquele primeiro dia, eu tinha alguns desafios a resolver, o primeiro deles era com relação ao dinheiro: como não conseguia sacar, eu teria que enviar um e-mail para a minha agente de câmbio no Brasil, fazer um depósito e aguardar a carga. Fui em uma Lan House e fiz isso o mais rápido que pude.
Em seguida saí para dar uma volta na cidade, tentando conseguir uma boa vista daquele lindo vale sem ter que, para isso, entrar dentr dele. O melhor que consegui foi em uma estrada em construção. Os operários eram muito divertidos e ficamos conversando (sempre em liguagem de sinais, urros e nomes soltos no ar). Não fiz muito mais naquele dia.

A grande aventura começou na manhã seguinte quando decidi caminhar para dentro do vale. Primeiro eu tinha que caminhar ate o outro lado, onde havia uma entrada para o fundo dele. A caminhada foi longa mas tranquila. A descida iniciou-se e eu percebi que haveria um grandissíssimo desafio.
Pois é, eu estava no meio da estrada, sem nenhum estabelecimento à vista e me deu aquela tremenda vontade de... (como dizer isso sem chocar os leitores?) uma tremenda vontade de... evacuar.
Meu intestino não estava lá naquelas condições e eu sabia que não dava tempo para voltar, ia ser ali na estrada mesmo. O objetivo então tornou-se encontrar um buraco para mandar uma obra. Felizmente, depois do que houve no Marrocos (leia aqui), eu carregava sempre comigo um pacotinho de lenços de papel.
Bem, encontrei o lugar perfeito, só havia um problema, ficava bem no meio da estrada e se passasse um carro não ia ser uma boa me pegar naquela posição ingrata. Bom, mas o tempo estava chegando ao fim, tinha que ser ali mesmo. Coloquei minha mala no chão e estava abrindo os botões da calça quando ouvi um carro chegando.
Era um senhor muito sorridente que me ofereceu uma carona para o fim do vale, eu tentei negar, tinha assuntos mais importantes para aquele momento, mas ele insistiu e acabei indo com ele. Ele morava em uma casa bem no fund do vale, um casa com uma linda visão do canion por dentro. Havia um restaurante ali por perto e foi para lá que fui, comprei uma coca como desculpa e corri para o banheiro. Que sorte hein? Para quem tava pronto para uma ação desesperada na estrada, arrumar uma carona e um banheiro é quase algo para voltar a acreditar em milagres.

Continuei a caminhada pelo vale. E não muito depois passou uma kombi com um monte de jovens na caçamba, um deles apontou para eu subir, eu disse que não, ia caminhando e após ele insistir decidi ir com eles, parecia uma ótima chance de fazer uns amigos... E foi o que aconteceu, era um grupo e umas 10 pessoas na faixa dos 15, 16 anos. E, claro, acabei virando o centro das atenções, inclusive das menininhas que ficavam zuando umas com as outras dizendo que a amiga queria casar comigo (boa!!).

Acho que eles eram um grupo religioso pois iam de igreja em igreja para rezar. E esse vale, não é chamado de ale Sagrado à toa, existem pelo menos umas cinco igrejas e mosteiros, por ali. Um deles inclusive com o corpo exposto de um dos fundadores do local. Achei graça pois no painel ao lado dizia que a incrível conservação do corpo era uma milagre únicamente atribuido à Deus. Bem, eu particularmente achei que Deus poderia fazer um serviço melhor.

Me despedi do grupo e segui caminhando até a estradinha (muito fácil) acabar, e o único caminho (exceto o retorno) era a descida que eu encarei. Muita lama, escorregões e, felizmente, nenhuma queda: cheguei ao riozinho que passa no meio do vale. Agora o que restava era a subida.

E que subida, acho que o que desci em dez minutos levou duas horas para subir, ou mais. Meu estoque de água era limitado então o lance era racionar. Quando cheguei no topo, ensopado de suor e com frio (dado o vento) e vi pela primeira vez em muitas horas casas e civilização, me senti quase como o Rocky Balboa naquela cena clássica da escada.
Olha só o que sobrou da minha meia:

Após duas caronas estava de volta em Becharry, fedendo e faminto. Perguntei no hostel onde havia um lugar bom e barato para comer e ela me mostrou o que havia naquele dia para o almoço no hostel, resolvi ficar por ali mesmo e, após um banho restaurador, comi um excelente frango ao molho curry com arroz, uma das melhores refeições que tive em semanas.
Em alguns minutos a van que me levaria a Beirute chegou, peguei minhas coisas e embarquei para mais uma etapa.

O Percurso no Vale Sagrado.

1 comentários:

Aline Proença disse...

Eba!! Já tava ficando com saudade dos seus posts.. hehe
Que coisa mais horrível que ficou essa sua meia hein??
Boa viagem e atualiza logo!! hehe
Abraços!

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