Damasco: Unidos para a mudança

11 de outubro de 2011



Fui a Damasco acompanhado da Mariana que ainda estava insegura com relação à situação na Síria. A passagem pela fronteira da síria com o líbano, foi bem mais tranquila do que a passagem pela fronteira com a Turquia. Ali, a Mariana também precisava de um visto e o conseguiu com tranquilidade, bem mais simples do que com o japonês na fronteira com a Turquia.

Passados os processos, chegamos em Damasco e fomos ajudados por uma passageira que veio conosco no taxi. Ela pegou um taxi conosco até um parque onde esperaríamos o Hassan*, o nosso host do couchsurfing em Damasco. Enquanto esperávamos, ela gentilmente nos trouxe comida e bebida, um amor de pessoa.

Em seguida chegou o Hassan, e não demorou para começarmos a ficar assustados com ele. Enquanto estávamos na Síria, queríamos ficar o mais longe possível de problemas, e no caso do Hassan, ele disse estar diretamente envolvido nos protestos inclusive tendo sido preso por mais de três vezes. Nós que queríamos ficar o mais distante possível dos problemas, de repente estávamos no carro com um dos problemas.

Ele nos levou para um apartamento meio sujo e bagunçado bastante afastado do centro da cidade. Disse-nos que não era seguro sair naquele momento pois poderiam haver checkpoints e ele não queria ter problemas, então ficamos de papo no apartamento até umas 6 horas quando fomos visitar a cidade.

Durante o papo ele nos disse como se inicaram os protestos, que inicalmente eram apenas por mais justiça social, e de como tudo poderia acabar com o primeiro discurso do ditador, que era bastante popular na época, e que se tivesse pedido desculpas e promovido algumas reformas simples (menos corrupção policial, por exemplo) a situação na Síria estaria próxima da normalidade. Ao invés disso, o ditador preferiu mostrar como continuava dominando e como tudo estava normal. Isso enfureceu os mais jovens e a situação chegou no ponto em que se encontra hoje com gente morrendo quase diariamente em protestos em várias cidades do país.

Ao final demos um passeio pela cidade que lembra muito outras cidades árabes, principalmente pelo mercadão no centro e pela deslumbrante mesquita principal. Na mesquita, não islâmicos são obrigados a pagar uma taxa paa entrar, o Hassan deu a ideia de fingirmos ser islâmicos, para isso era só entrar na mesquita, tirar os sapatos e não falar com ninguém, foi o que fiz e funcionou, a Mariana teve mais problemas, afinal, suas roupas não eram muito condizentes com o estilo de mulheres muçulmanas.




Mais tarde fomos jantar em um restaurante barato, tomar chá e fumar narguile antes de voltar para casa.

Nem eu nem a Mariana tínhamos dinheiro e ficamos na mão do Hassan, que pagou por tudo dizendo-nos para pagá-lo depois. Dizia que não iríamos encontrar casa de câmbio, que as máquinas estavam quebradas etc. E por isso não tínhamos escolha, o único dinheiro que eu tinha eram Liras Libanesas que ele levou para trocar em algum lugar perdendo neste caso 30% do valor original, considerando também as contas suspeitas que ele fez do primeiro dia, fiquei com a impressão de que perdemos dinheiro com ele.

No dia seguinte, o Hassan não queria sair de casa pois era sexta-feira, principal dia de protestos e quando a polícia fica mais cuidadosa colocando controles por toda a cidade. Eu, queria voltar à cidade velha durante o dia e resolvi ir sozinho.

Peguei ônibus, taxi, e caminhei uma porrada, chegando lá a cidade inteira estava fechada porque era sexta-feira. Por acidente acabei passando pela sede do governo Sírio, pude ver vários seguranças empunhando armas pesadas para proteger os prédios do governo. Foi uma visão bastante intimidante, afinal não haviam muitas pessoas caminhando por aqueles lados.

Enfim cheguei à cidadela, a primeira coisa que fiz foi ver a tumba do Sultão Saladino, aquele que reconquistou Jerusalém e pôs fim às cruzadas.

Depois fui caminhando pela cidade e vi um grupo de moradores locais jogando pebolim, ah eu não resisti, e graças aos meus dias de Roche Diagnótica, nos quais eu jogava todos os dias, eu até que jogo bem, bem demais para os padrões Sírios. Fiz vários gols que deixaram eles bastante impressionados. Quando descobriram que eu era brasileiro, encontraram aí a explicação que queriam para as minhas habilidades pebolísticas.

Mais tarde encontrei a Mariana e o Hassan, junto deles estava uma amiga do Hassan que era muito gente fina. No caminho para uma montanha de vista panorâmica da cidade, ela me ensinou ccomo contar de 1 a 10 em árabem o que foi bastante útil.


Mais tarde ficamos de papo com um grupo de amigos do Hassan que eram uns figuraças. O assunto principal eram as revoltas e como todos eles estavam diretamente envolvidos nos protestos. Um detalhe que me chamou a atenção foi ver como os garis agiam para tentar espionar os papos do pessoal. Em meu penúltimo post sobre a Síria, comentei sobre a paranóia em torno de Garis e de taxistas, e agora pude ver como de fato eles agiam.

Primeiro que pareciam estar interessados na limpeza apenas da área em que conversávamos. Chamava atenção para a ineficiência de sua limpeza, até eu podia varrer o chão melhor. Também resolveram descansar e claro, escolheram o lugar mais próximo de nós. O medo dos nossos amigos era de que em uma ligação destes garis, a polícia secreta poderia vir, encontrá-los com dois extrangeiros e leva-los para uma temporada no xadrez, coisa que já aconteceu com alguns deles.

Acabamos nos despedindo cedo deste grupo, teríamos que seguir viagem no dia seguinte, o destino desta vez seria Aman, onde um grupo de brasileiros nos esperava com um churrasco.

*Nome alterado para evitar rolos com o governo Sírio.

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